Para muitos de nós, os últimos 16 meses implicaram mudanças muito significativas nas rotinas a que, diariamente, estávamos habituados. A vida das pessoas consideradas saudáveis, passou a ter alguns constrangimentos que afetaram o ambiente de trabalho, o ambiente familiar, o relacionamento com os amigos de maior proximidade e, de forma inesperada, mas previsível, uma relação diferente e mais preocupante com a sua saúde. Para as pessoas afetadas por qualquer uma das muitas doenças raras, considerada de risco ou não, sobretudo para as mais expostas e nas faixas etárias mais jovens, o desafio tem sido, quase, um ato de heroísmo.
Depois das muitas hesitações verificadas no início da campanha de vacinação, na recomendação oficial da vacina, aos mais frágeis ou aos portadores de algumas doenças cujo comprometimento respiratório seria agravado pela infeção, independentemente da idade, por parte da Direção-Geral de Saúde (DGS), temos assistido a um crescendo de dúvidas sobre temas como o acompanhamento destas pessoas que continuam em teletrabalho ou que, apenas para aliviar a pressão exercida sobre a sua sanidade mental, pretendem ir almoçar fora, beber um café ou, simplesmente, mudar de ambiente por algumas horas. Em boa verdade, porque querem continuar a resistir. Atrevo-me, ainda, a afirmar que pretendem, sobretudo, recuperar o tempo que perderam no acompanhamento que não lhes foi feito, e à reabilitação da sua doença crónica.
Porque também querem continuar a viver!
Surge, agora, uma nova hesitação. Devemos, ou não, vacinar os adolescentes com idades entre os 12 e os 15 anos? Embora duas das vacinas disponíveis estejam aprovadas pela EMA – Agência Europeia do Medicamento, para esse efeito, alguns, afirmam que sim. Outros, recomendam que não. Em ambos os lados, encontramos profissionais de saúde experientes, e especialistas em muitas matérias relacionadas. Mas, para a DGS, só é recomendável que se vacinem estes jovens se eles tiverem comorbilidades associadas, que possam conduzir a uma doença grave. Ou à morte. As perguntas que me ocorrem no imediato, são:
- Mais grave, ainda?
- Será que vamos conseguir descodificar, rapidamente, quais são essas comorbilidades associadas?
- Será que vamos conseguir, mais rapidamente do que no início da campanha, esclarecer todas as famílias atingidas por essas “doenças graves”, como as doenças neuromusculares e outras?
- Será que vão ser dadas indicações concretas e claras, aos médicos que vão ter a tarefa de recomendar a vacina, em caso de necessidade?
Que pena, não haver um teste, ou um certificado digital, para ter tal certeza. Para além do PCR, do Antigénio ou do caseiro sem qualquer controlo que, aparentemente, servem para quase tudo, quando se trata de relançar a atividade económica ou de pacificar a impaciência daqueles que já têm pouca esperança, teremos que descobrir uma melhor fórmula, e mais consensual, para incitar à vacinação nesta camada da população.
Diariamente, através de novas projeções, de novas fórmulas matemáticas para calcular o índice de risco, ou de construir a sua matriz, somos levados a acreditar que a solução para a pandemia é a vacina. E, até, que dentro de muito pouco tempo, atingiremos a tão desejada imunidade de grupo para podermos abandonar os condicionalismos impostos.
Quero que isso seja verdade.
Se todos forem vacinados!
Se todos estiverem imunizados!
Se todos puderem tratar da sua saúde!
Sobretudo, os que mais precisam de ser tratados! E os mais novos, também são gente!
Autor: Joaquim Brites, Presidente da APN – Associação Portuguesa de Neuromusculares