Natal é a festa por excelência da família, da paz, do amor, da alegria, da solidariedade e da esperança num futuro melhor, que este ano a humanidade aguarda com redobrada expectativa que marque o fim da malfadada pandemia de coronavírus.
Uma pandemia que tem acarretado nas sociedades efeitos assoladores no campo socioeconómico, espelhados em inúmeras vítimas e casos de infeção, assim como persistentes medidas de confinamento que entrevam a economia e o retomar da normalidade.
Disseminadas pelos quatro cantos do mundo, as comunidades portuguesas, a mais autêntica e consistente manifestação lusa além-fonteiras, não estão imunes a estes efeitos que alteram transversalmente o nosso quotidiano e rotinas.
Efeitos que ao longo dos últimos dois anos foram responsáveis pelo cancelamento ou adiamento de vários eventos e iniciativas que integram os planos anuais de atividades do movimento associativo das comunidades portuguesas, e que são em muitos casos essenciais para obter receitas que permitam financiarem o seu normal funcionamento. Assim como, pelo assomar de situações de precariedade, perda de rendimentos, desemprego e ameaça de insegurança económica no seio de diversos agregados de emigrantes portugueses.
Mas nestes tempos difíceis, as comunidades portuguesas têm demonstrado um enorme espírito de solidariedade (um dos, senão mesmo, o mais importante valor que nos humanizam e dão sentido ao Natal), apoiando quer os nossos concidadãos no estrangeiro, assim como os portugueses residentes no território nacional.
Um desses exemplos de solidariedade foi dinamizado no decurso desta quadra natalícia pela Fundação Nova Era Jean Pina, uma instituição presidida pelo empresário benemérito luso-francês, João Pina, administrador do Grupo Pina Jean, sediado nos arredores de Paris, que além de distribuir inúmeros produtos junto de instituições e agregados desfavorecidos em Portugal e França. Ofereceu, através da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, e da Federação Iberoamericana de Luso Descendentes, duas centenas de cabazes de Natal a famílias portuguesas e lusodescendentes residentes na Venezuela, segunda maior comunidade lusa na América Latina, a seguir ao Brasil, que nestes tempos desafiantes vive com graves dificuldades.
Na mesma esteira, no alvorecer deste mês a Academia do Bacalhau de Paris dinamizou a campanha “Roupa sem Fronteiras, recolhendo no seio da comunidade portuguesa da região parisiense, grandes quantidades de roupas, calçado e brinquedos que foram encaminhados para o Gabinete da Ação Social da Câmara Municipal de Viana do Castelo, para a Associação CPCJ de Cabeceiras de Basto, e para a Emmaüs, em França.
Na América do Norte, mais concretamente em Toronto, onde vive a maioria dos mais de meio milhão de compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá, tem vindo a ser dinamizado neste período marcado pela pandemia um dos mais salientes projetos de cariz solidário no seio diáspora. Designadamente, a construção a breve prazo de um centro, orçado em vários milhões de dólares, capaz de acolher mais de duas centenas de idosos, especialmente direcionado para a comunidade portuguesa.
Este projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes lusos na maior cidade canadiana, está a ser dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães). Uma organização sem fins lucrativos, em homenagem ao navegador português, que através da colaboração do poder politico e da solidariedade da comunidade luso-canadiana, pretende construir um lar culturalmente específico que terá que cumprir as seguintes condições: profissionais de saúde que falem português; atividades cultural e espiritualmente desenvolvidas em ambiente cultural sensível; promoção de programas sociais e recreativos em português e alimentação que deve incluir pratos tradicionais.
Como assinalou no início da apresentação pública do projeto, o comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, e um dos diretores da Magellen Community Charities, é importante que a comunidade portuguesa esteja envolvida no projeto pela “oportunidade única, estamos empenhados para que tenha sucesso e para que toda a comunidade se envolva”.
Estes exemplos inspiradores de solidariedade, e muitos outros que estão atualmente a serem dinamizados no seio das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, reforçam que mesmo em tempos de pandemia, a solidariedade é a estrela de Natal das comunidades portuguesas.
Que a solidariedade que emana das comunidades portugueses nos irmane a todos a tornar o mundo um lugar melhor, e nos inspire uma Feliz Quadra Natalícia e um Próspero Ano Novo.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor