Nenhum de nós tinha alguma vez sentido na pele os efeitos devastadores de uma pandemia. Esta, provocada pela COVID, tem sido especialmente perturbadora, pela rapidez com que se espalha pelo mundo, e pela variabilidade dos efeitos provocados nos infetados, que ficam sem quaisquer queixas significativas, ou ficam a bater às portas da morte! Esta imprevisibilidade das consequências da infeção pelo SARS-Cov permite que seja dado crédito às alarvidades pronunciadas pelos políticos populistas, mesmo com a dolorosa verdade de caminharmos para os 3 milhões de mortos!
A saúde é um bem precioso, reconhecido por qualquer um. Sem ela, ficamos frágeis e, num ápice, deixamos de dar valor às coisas materiais, fazemos promessas mentais de bom comportamento, e ajoelhamos perante quem nos possa ajudar a sair daquele aperto. No auge da pandemia, havia milhares de doentes infetados nos Hospitais, outros em casa a rezarem para não piorarem, e muitos milhões, ainda saudáveis, com o pânico de poderem sucumbir no dia seguinte. Na primeira vaga, o País ficou petrificado e incrédulo. Quase todos tememos pela nossa saúde, talvez irremediavelmente perdida, se já tínhamos alguma doença prévia, ou sujeitos à roleta russa do destino que a COVID nos trouxesse.
Não me surpreende que as palmas de agradecimento aos profissionais de saúde se tenham calado, muito antes da acalmia dos números da pandemia. Aliás, nalguns casos, assistiu-se a um crescente sentimento de revolta, contra os especialistas que recomendavam alguma contensão na velocidade do desconfinamento, enquanto o SNS não retomasse a sua capacidade de tratar os doentes COVID e os não COVID. Embora triste, pelo contraste tão evidente de atitudes, é compreensível o silêncio das varandas. A manutenção dos gestos de gratidão, durante um grande período de tempo, acaba por cansar. Ainda mais, quando os problemas económicos se vêm juntar, e são postas em causa necessidades básicas, há muito consideradas resolvidas! Mas, o reconhecimento e o respeito pelo trabalho abnegado dos profissionais de saúde deveria manter-se.
O respeito que temos por alguém, por um princípio ou por uma Instituição, é um sentimento nobre, civilizado e democrático! Nestes tempos conturbados, espero que tenhamos aprendido a ter respeito pela nossa saúde. Nunca foi tão evidente, que a defesa da nossa saúde individual contribui para a saúde coletiva. Procurar não ficar doente, numa altura em que os Hospitais estão em colapso, é inteligente para o próprio, e a melhor forma de respeitar os outros, em que também se incluem os médicos e os enfermeiros e a restante equipa de saúde.
No dia 7 de Abril, Dia Mundial da Saúde, lembremos a importância de preservarmos a nossa saúde, respeitando-nos a nós próprios e aos outros, fazendo disso uma norma de vida!
Autor: João Araújo Correia, médico internista e Presidente da SPMI