No início do presente mês de março, a Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, um organismo nacional, tutelada pelo Ministério da Cultura, e que tem por missão a salvaguarda e a divulgação do património cinematográfico, principiou um ciclo dedicado ao fenómeno migratório.
Com o título “Povos em Movimento – Migração, Exílio e Diáspora”, o ciclo que decorrerá até ao mês de maio, assenta na projeção de filmes que abarcam cem anos de cinema e de História, com ficções, documentários, ensaios e raridades.
Segundo a instituição fundada nos anos 50 por um dos pioneiros das cinematecas europeias, Manuel Félix Ribeiro, e que desde essa década é membro da Federação Internacional dos Arquivos de Filmes (FIAF), o princípio geral da programação “foi o de olhar a forma como o cinema representou os principais movimentos gerados por causas económicas e políticas que marcaram o século XX e que estão a marcar este início de século, com alguns antecedentes no período imediatamente anterior”.
Iniciado com a curta-metragem centenária “O emigrante” (1917), de Charles Chaplin, pela Cinemateca irão passar ainda “Emigrantes” (1948), de Aldo Fabrizi, “As Vinhas da Ira” (1940), de John Ford, “Rocco e os Seus Irmãos” (1960), de Luchino Visconti, “A Promessa” (1996), dos irmãos Dardenne, “Reminiscences of a journey to Lithuania” (1972), de Jonas Mekas, recentemente falecido, “A Grande Cidade” (1966), do brasileiro Cacá Diegues, e “América, América ” (1963), de Elia Kazan.
O ciclo não esquecerá países como Portugal “que durante séculos foram terras de emigração”, tendo sido incluídos alguns filmes, entre os quais “Lisboetas” (2004), de Sérgio Tréfaut, e “Fantasia Lusitana” (2010), de João Canijo. Sendo que em maio o ciclo centrar-se-á essencialmente na emigração e na diáspora portuguesa em França, com uma programação específica a anunciar e que incluirá um debate.
Enquanto experiência original de visionamento e reflexão, o ciclo agora estreado pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, dedicado à Migração, Exílio e Diáspora, constitui um relevante contributo para o robustecimento da cidadania democrática, particularmente num país fortemente marcado pela emigração, e numa época em que as migrações são um dos principais desafios das sociedades e das relações entre os povos.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor.