A importância da Ciência Biomédica como base para a melhoria da Saúde e Bem-estar da Humanidade, de que dependem muitos outros fatores de desenvolvimento Humano, ficou bem patente na resposta aos desafios colocados pela pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2. Entre outros aspetos, em tempo recorde, foram estudadas as características do vírus até ao mais ínfimo detalhe, desvendou-se a fisiopatologia da doença que provoca, e desenvolveram-se vacinas com elevada segurança e eficácia na prevenção das consequências mais gravosas da doença. Outras ferramentas terapêuticas foram testadas, e continuam a surgir novos fármacos com potencial para menorizar o impacto de uma doença que não existia há menos de dois anos.
Tudo isto só foi possível graças a algumas características da Ciência que se pratica atualmente, nomeadamente a utilização de tecnologias altamente diferenciadas e especializadas, aliadas a uma elevada inter e multidisciplinaridade, e beneficiando de uma grande colaboração interinstitucional e transnacional. De facto, nunca como hoje se assistiu a uma tão ampla partilha de conhecimento e informação, potenciada pelas modernas tecnologias digitais que colocam o mundo à distância de um clique.
Mas nada disto seria possível sem o caminho que a Ciência fez até aqui, conduzida pelos cientistas e investigadores mais ou menos anónimos que, todos os dias, pugnam por estender o conhecimento para além das fronteiras que foram sendo alargadas ao longo do tempo desde que o Homem decidiu empreender essa jornada. Descobertas aparentemente “menores” são muitas vezes a chave para desenvolvimentos tecnológicos e científicos de grande impacto nos mais diversos domínios. O Conhecimento é a soma desses pequenos avanços que quotidianamente nos chegam de instituições dispersas por todo o mundo.
De facto, atualmente são publicados diariamente milhares de artigos científicos sobre os mais variados temas, de tal modo que mesmo os especialistas têm dificuldade em acompanhar a evolução da Ciência em qualquer dos seus ramos. A hiperespecialização, que também é uma das características da Ciência atual, torna por vezes difícil compreender o significado e o alcance do resultado do labor dos cientistas. É, pois, muito importante saber comunicar Ciência e aumentar a literacia científica da população de modo a que, confrontados com as descobertas científicas, sejamos capazes de as interpretar adequadamente.
Numa outra vertente, segundo os dados da OCDE, em 2019, antes da pandemia, o investimento em Ciência em Portugal foi de cerca de 1,4% do PIB, enquanto a média nos 27 países da UE foi de 2,1% e nos países da OCDE foi de 2,5% (na Coreia do Sul foi de 4,6%!). Verifica-se assim que, apesar do aumento do investimento verificado nos últimos anos, estamos ainda longe dos patamares observados na maioria dos países desenvolvidos, pelo que urge reforçar a parcela do orçamento, do estado e das empresas, dedicada à Ciência. A este propósito, note-se que atualmente mais de metade do investimento em Ciência realizado no nosso País provém do sector empresarial.
Mas a Ciência não é Verdade, muito menos absoluta. É o conhecimento possível num determinado contexto histórico e tecnológico. Numa época em que, por vezes, a realidade se confunde com a ficção, em que de forma mais ou menos propositada são divulgadas notícias falsas ou enganadoras que servem propósitos obscuros, torna-se particularmente importante saber reconhecer os limites da Ciência.
É que, tão errados estão os que negam a ciência sem fundamento como aqueles que se recusam a questioná-la fundamentadamente.
Autor: José M. Castro Lopes, Vice-Reitor da Universidade do Porto