Papel da Medicina Física e de Reabilitação na Gravidez

Inês Táboas, fisiatra na ULS de Entre Douro e Vouga e coordenadora da Unidade de Reabilitação do Pavimento Pélvico do serviço de Medicina Física e de Reabilitação
Inês Táboas, fisiatra na ULS de Entre Douro e Vouga e coordenadora da Unidade de Reabilitação do Pavimento Pélvico do serviço de Medicina Física e de Reabilitação. Foto: DR

A Medicina Física e de Reabilitação (MFR) ou Fisiatria é uma especialidade médica centrada no indivíduo que possui algum grau de incapacidade e tem como objetivo principal a otimização da sua função física, psicológica e social e desta forma, da sua qualidade de vida.

A gravidez associa-se a múltiplas alterações na vida de uma mulher, uma grande parte delas, físicas, mas também emocionais, psicológicas e relacionais.

Dentro destas alterações, destaco as que mais habitualmente poderão ser sede da intervenção da MFR: a fadiga, as alterações provocadas no pavimento pélvico, as alterações musculoesqueléticas e posturais.

O pavimento pélvico corresponde ao conjunto de músculos, articulações e ligamentos que fazem o suporte dos órgãos pélvicos, em particular do útero, bexiga e reto. As alterações impostas pela gravidez e o parto podem condicionar problemas como incontinência urinária e anal, disfunção sexual, dor pélvica e cicatrizes dolorosas pós-parto.

Relativamente às alterações musculoesqueléticas e posturais, devido a maior laxidez dos ligamentos e articulações, sobretudo da região pélvica, a postura da gestante sofre alterações, podendo conduzir ao aparecimento de dores, sobretudo lombar e pélvicas.

A MFR poderá ter um papel fundamental no bem-estar da mulher durante o período da gravidez e pós-parto, sendo fundamental a avaliação médica e posterior integração num programa global de reabilitação.

Este programa poderá incluir uma ou várias intervenções, como aconselhamento de medidas gerais, medidas posturais e de ergonomia, exercício físico, tratamento farmacológico, programa de exercícios de fortalecimento muscular do pavimento pélvico (FMPP) e fisioterapia.

De forma geral (excetuando raros casos em que há contra-indicação médica), está recomendado o exercício físico regular, que deve ser individualizado, de acordo com a preferência e capacidade física da grávida (a fadiga poderá exigir pausas frequentes). Os mais frequentemente recomendados são a caminhada, pilates ou natação e os desaconselhados, os desportos de elevada intensidade, de impacto e contacto.

A grávida deve evitar posturas desadequadas e prolongadas, transportar e manipular cargas pesadas e se necessário, deve fazê-lo cumprindo medidas de ergonomia (fletir os joelhos e não fletir a coluna); e usar calçado confortável sem salto e com bom suporte plantar.

Estas estratégias, ao conduzirem a uma melhor postura, permitem por si só a prevenção e redução da dor lombar. Quando não são suficientes, deverão ser implementadas medidas para alívio da dor como o tratamento farmacológico e a fisioterapia.

As intervenções no pavimento pélvico estão também recomendadas. As grávidas devem realizar um programa diário de exercícios de FMPP (os exercícios de Kegel) e exercícios de fortalecimento e flexibilização lumbopélvicos, que podem ser feitos no domicílio após orientação médica ou em contexto de programa de fisioterapia ou programas supervisionados em classes.

Outra área fundamental é o tratamento de cicatrizes dolorosas (por exemplo da cesariana e episiotomia) e dor pélvica pós-parto, podendo estar indicadas a fisioterapia, tratamento farmacológico e outras intervenções mais recentes como a aplicação de toxina botulínica e outras técnicas de intervenção.

A gravidez e o pós-parto são etapas da vida de uma mulher desafiantes e a MFR, ao contribuir para a melhoria da qualidade de vida global, poderá ser um aliado importante e diferenciador.

Feliz dia da Grávida.

Autora: Inês Táboas, fisiatra na ULS de Entre Douro e Vouga e coordenadora da Unidade de Reabilitação do Pavimento Pélvico do serviço de Medicina Física e de Reabilitação