A obesidade é um problema de saúde pública global com proporções alarmantes em todo o mundo, sendo um problema transversal a todas as faixas etárias. Em Portugal estima-se que a prevalência de obesidade seja de aproximadamente 20% na população adulta, e que uma em cada três crianças portuguesas tenha excesso de peso. Apesar de haver condições inatas predisponentes, é sobretudo uma consequência direta de erros alimentares e estilo de vida sedentário.
A obesidade não é apenas uma questão estética. É uma condição médica complexa que afeta múltiplos sistemas, incluindo o cérebro e restante sistema nervoso. Além de ser um fator de risco cardiovascular bem estabelecido no desenvolvimento de doença neurológica de origem vascular, a evolução no conhecimento científico tem revelado uma relação complexa e multifatorial entre a obesidade e doenças neurológicas, que ainda é objeto de estudo.
Diversos fatores fisiopatológicos são identificados como potenciais contribuintes. Um dos principais mecanismos, através dos quais a obesidade afeta o cérebro, é a promoção de um estado de inflamação crônica, que pode desencadear respostas neuroinflamatórias prejudiciais, contribuindo para a progressão de doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer, Parkinson e Esclerose Múltipla.
A resistência à insulina, uma característica comum da obesidade, não só aumenta o risco de Diabetes Mellitus tipo 2, mas, também, desempenha um papel crucial na patogénese de doenças neurológicas. A disfunção metabólica associada à resistência à insulina pode levar a desequilíbrios no metabolismo cerebral e ao acúmulo de proteínas tóxicas, características da doença de Alzheimer. Existe evidência que o risco de doença de Alzheimer nos obesos é duas vezes superior em comparação com indivíduos com peso normal.
Além dos aspetos metabólicos, a obesidade influencia negativamente o funcionamento do sistema nervoso central através de distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva do sono, que estão associados a um maior risco de declínio cognitivo e demência. A privação crônica de sono interfere nos processos de consolidação da memória e pode agravar os sintomas de doenças neurológicas pré-existentes.
É importante destacar que a relação entre obesidade e doenças neurológicas é bidirecional. Ou seja, não apenas a obesidade aumenta o risco de desenvolver doenças neurológicas, como, por outro lado, certas condições neurológicas também podem contribuir para a obesidade, seja por diminuição na atividade física, por limitação na mobilidade, ou como consequência de efeitos secundários de medicamentos, entre outros.
Diante deste panorama preocupante, é imperativo adotar abordagens integradas e holísticas para prevenir e tratar tanto a obesidade, como as doenças neurológicas. Isso inclui intervenções que promovam a adoção de estilos de vida saudáveis, como dieta equilibrada e atividade física regular, além do tratamento de condições médicas subjacentes.
No 20 de maio assinala-se o Dia Nacional de Luta contra a Obesidade
Autora: Frederica Coimbra, Médica de Medicina Interna, CNS – Campus Neurológico