As palavras epidemiologia, epidemiologistas, epidemias e pandemias tornaram-se de tal forma comuns que já fazem parte do nosso léxico. Tudo por causa da atual pandemia. Tal como o vírus em causa, vieram para ficar.
A epidemiologia é uma ciência, mas deve ser considerada como uma disciplina, verdadeiro instrumento de trabalho e de investigação para os profissionais de saúde.
A epidemiologia moderna nasceu em meados do século dezanove e traduz, na sua essência, a incorporação do método científico na área da medicina, a última área do conhecimento humano a ser cientificada. Foram precisos três séculos! De qualquer modo a medicina nunca irá ser cientificada por múltiplas razões, já que as crenças, os mitos, a cultura e a tradição vão continuar a impor os seus ritmos e interpretação dos fenómenos. Mesmo assim, a medicina moderna nasceu a partir daquele momento de uma forma notável. Com os métodos epidemiológicos foi possível “construir” as doenças e identificar os determinantes da saúde e da doença, possibilitando o estabelecimento de medidas de higiene e de prevenção coletiva e individual assim como modificação de comportamentos e atitudes de risco. Estas medidas determinaram num curto espaço de tempo mais saúde, mais bem-estar e maior longevidade.
Os métodos científicos subjacentes à prática epidemiológica continuam a ser praticados a vários níveis e em todas as especialidades médicas, e não só em matéria de saúde pública. As áreas das doenças degenerativas, nomeadamente cancro e doenças cardiovasculares, enriqueceram-se de forma extraordinária a ponto de conhecermos os principais fatores de risco e, consequentemente, despertar a atenção e os cuidados a ter para a tomada de medidas de caráter preventivo.
A epidemiologia tem esse “condão”. É obrigação dos epidemiologistas contribuir com os seus conhecimentos, métodos científicos e princípios humanistas para o bem-estar e saúde dos seres humanos.
A vida acima de tudo, mas com saúde e bem-estar. A epidemiologia também ajuda a alcançar estes desideratos…
Autor: Salvador Massano Cardoso, Professor Catedrático Aposentado de Epidemiologia e Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, onde também foi Diretor do Instituto de Higiene e Medicina Social e responsável pelos cursos de mestrado em Saúde Pública e em Saúde Ocupacional. Especialista em Medicina do Trabalho pela Ordem dos Médicos.