No início de março realizou-se uma vez mais, no Grão Ducado do Luxemburgo, um país da Europa Setentrional circundado pela Bélgica a oeste, a França a sul e a Alemanha a leste, uma nova edição do Festival das Migrações, Culturas e Cidadania, um dos maiores eventos das comunidades estrangeiras a residir neste território.
Como é o caso da comunidade lusa, tanto que em 2015, havia mais de 90.000 portugueses no território, representando 17% da população do Luxemburgo, sendo que inclusive a língua de Camões é mesmo uma das cinco línguas mais faladas no país depois do francês, luxemburguês e alemão.
Este ano, a 38.ª edição da iniciativa organizada pelo Comité de Ligação das Associações de Estrangeiros (CLAE), que constitui um ponto de encontro anual dos estrangeiros no Luxemburgo, devido ao cenário de pandemia que o mundo atravessa decorreu em formato on-line.
Ao contrário dos anos anteriores, cujo modelo organizativo assentava na realização do festival na LuxExpo no Kirchberg, e paralelemente na dinamização de uma Feira do Livro e num encontro de culturas e artes contemporâneas, ArtsManif, eventos que contavam a presença de escritores e artistas dos quatro cantos do mundo, inclusivamente do espaço lusófono. A 38.ª edição decorreu em torno de quatro mesas redondas dedicadas à habitação, integração, impacto psicológico da pandemia e sobre o mundo associativo no Luxemburgo, e atraiu cerca de 2.500 pessoas que se ligaram para acompanhar um ou mais dos eventos programados e transmitidos ao vivo na página do CLAE.
Num ano complexo e desafiante para o mundo, o Festival das Migrações, Culturas e Cidadania reinventou-se mas mantendo a sua essência na valorização e partilha das culturas, ou na linha de pensamento de Jorge de La Barre, sociólogo que se tem interessado pela etnomusicologia, persiste em “dar a voz ao Outro, respeitar as diferenças, as maneiras de ser e de dizer”.
De fato, numa época em que a tentação de construção de muros a separar povos e culturas é grande, onde os populismos ganham terreno à custa das consequências económicas, da crise de refugiados e de intolerâncias religiosas, o Festival das Migrações, Culturas e Cidadania remanesce como uma pedrada no charco que agita as águas, reafirmando a premência da construção de uma cidadania europeia e mundial ativa, assente no primado universal da diversidade cultural e dos valores dos direitos humanos.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor