O elo entre Doenças Cardiovasculares e Neurodegenerativas: Fatores de risco comuns e caminhos para a prevenção

Ana Tornada, Médica de Medicina Interna do CNS - Campus Neurológico
Ana Tornada, Médica de Medicina Interna do CNS - Campus Neurológico. Foto: DR

As Doenças Cardiovasculares (DCV) e as Doenças Neurodegenerativas (DND) partilham vários fatores de risco em comum. Entre os que podemos modificar estão a diabetes, a hipertensão arterial, o colesterol alto, a obesidade, o sedentarismo, o consumo excessivo de álcool, o tabagismo e uma alimentação pouco saudável. Existem também fatores de risco que não podemos controlar, como a idade, o sexo e a genética, que contribuem tanto para as DCV como para as DND.

As doenças cardiovasculares afetam o sistema circulatório, ou seja, o coração e os vasos sanguíneos. As mais frequentes incluem hipertensão, doença coronária isquémica, insuficiência cardíaca, arritmias (como a fibrilação auricular), acidentes vasculares cerebrais (AVC) e tromboembolismo pulmonar. Quase todas são causadas por um processo chamado aterosclerose, ou seja, a formação de placas de gordura e cálcio no interior das artérias, dificultando a circulação sanguínea. As doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de um terço das mortes a nível global. Em Portugal, estima-se que causem cerca de 35 mil mortes por ano.

Já as Doenças Neurodegenerativas resultam da degradação e morte progressiva das células nervosas, os neurónios. Dependendo da função desses neurónios, estas doenças podem manifestar-se de várias formas, como alterações no movimento ou perda das capacidades cognitivas. As mais comuns são a Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, Esclerose Múltipla, Esclerose Lateral Amiotrófica, Doença de Huntington e a Paramiloidose. Estima-se que, no mundo, existam cerca de 55 milhões de pessoas com demência, das quais 200 mil vivem em Portugal. Segundo a Organização Mundial de Saúde, este número poderá mais do que duplicar até 2050, com 139 milhões de casos de demência previstos.

O avanço da idade é, sem dúvida, o maior fator de risco para o surgimento destas doenças, que estão entre as principais causas de morte em todo o mundo. A doença coronária isquémica lidera como a principal causa de mortalidade global, seguida pelo AVC, enquanto a Doença de Alzheimer ocupa o 7º lugar. Nos países desenvolvidos, estas patologias figuram no top 3 das causas de morte.

Nos últimos anos, outros fatores de risco começaram a surgir, como o impacto das condições socioeconómicas, a fragilidade social, a iliteracia em saúde, a poluição ambiental, doenças inflamatórias crónicas, algumas infeções agudas e crónicas, problemas de saúde mental e distúrbios do sono. Todos estes fatores podem aumentar o risco tanto de doenças cardiovasculares como de neurodegenerativas.

Apesar dos avanços nas terapias, a melhor forma de combater continua a ser a prevenção, através da adoção de um estilo de vida saudável. Assim, é recomendado praticar exercício físico regular (30 minutos, 5 dias por semana) e adotar uma alimentação equilibrada, com maior consumo de frutas, vegetais, fibras e peixe, e reduzindo a ingestão de açúcar, sal e gorduras. Manter um peso saudável (Índice de Massa Corporal abaixo de 25 kg/m²), controlar a pressão arterial (<140/90mmHg), o colesterol e os níveis de açúcar no sangue, evitar o tabaco e o consumo excessivo de álcool são igualmente fundamentais. Além disso, manter-se social e intelectualmente ativo ao longo da vida, bem como gerir a depressão e o stress, também pode ajudar a prevenir estas doenças.

Embora a ligação entre as doenças cardiovasculares e neurodegenerativas ainda não esteja completamente esclarecida, sabe-se que prevenir os fatores de risco partilhados pode ser a chave para reduzir a incidência de ambas.

O Dia Mundial do Coração assinala-se a 29 de setembro.

Autora: Ana Tornada, Médica de Medicina Interna do CNS – Campus Neurológico