A dimensão e impacto da emigração no país, nas palavras abalizadas de Vitorino Magalhães Godinho, uma “constante estrutural” da demografia portuguesa, têm impelido a construção nas últimas décadas, no seio dos territórios municipais, de vários núcleos museológicos dedicados à salvaguarda da memória do processo histórico do fenómeno migratório nacional.
É o caso, por exemplo, do Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe, uma cidade do interior norte de Portugal, situada no distrito de Braga, no coração do Minho, cujo desenvolvimento contemporâneo teve um forte cunho de emigrantes locais enriquecidos no Brasil na transição do séc. XIX para o séc. XX. Também conhecidos como “brasileiros de torna-viagem”, que na esteira da trajetória transoceânica empreendida por mais de um milhão de portugueses entre 1855 e 1914, conseguiram voltar engrandecidos à sua terra natal, e assim sustentaram a criação das primeiras indústrias, a construção de casas apalaçadas, e a edificação de obras filantrópicas ligadas à saúde, ao ensino e à caridade.
Estas marcas identitárias do ciclo do retorno dos “brasileiros de torna-viagem”, singularmente presentes no centro urbano da “Sala de visitas do Minho”, e profusamente estudadas pelo saudoso mestre Miguel Monteiro, impulsionaram o Município de Fafe a instituir no início do séc. XXI o Museu das Migrações e das Comunidades.
Percursor no seu género em Portugal, o espaço museológico assenta a sua missão no estudo, preservação e comunicação das expressões materiais e simbólicas da emigração portuguesa, detendo-se particularmente na emigração para o Brasil do século XIX e primeiras décadas do XX, e na emigração para os países europeus da segunda metade do século XX.
Entre os acervos documentais que compõem o Museu das Migrações e das Comunidades, que tem o reconhecimento da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e integra a AEMI (Association of European Migration Institutions), destaca-se uma coleção de mais de uma centena de fotografias oferecidas ao Museu pelo consagrado fotógrafo franco-haitiano Gérald Bloncourt, cujas amplamente conhecidas imagens que imortalizam a história da emigração portuguesa para França, representam um contributo fundamental para a (re)construção da identidade e memória coletiva nacional.
Como realça a socióloga Maria Beatriz Rocha-Trindade, no artigo Museus de Migrações – Porquê e para quem?, a instituição sediada no coração do Minho, um território fortemente marcado pela emigração, e da qual a autora de uma vasta bibliografia sobre matérias relacionadas com as migrações é consultora científica, o Museu das Migrações e das Comunidades, ao longo dos últimos anos, tem desempenhado um papel fundamental na “conservação e transmissão da memória que faz parte da própria história portuguesa”.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor