Em 2001 cruzei-me na RTP, no festival da canção com Sara Tavares no auditório Luísa Todi em Setúbal…Ela fazia parte do júri e eu fazia parte de uma banda concorrente… Lembro-me do seu sorriso constante para com todos os concorrentes e o seu embaraço por estar a desempenhar um papel que não lhe era confortável. Sem dúvida, era visível que ela gostaria muito mais estar naquele auditório a desempenhar o nosso papel de artistas do que estar a avaliar e a comparar a música como se isso fosse possível…
A pureza da sua alma, era visível no seu olhar para quem amava e chamava a música como só ela sabia chamar… Talvez tivesse sido mais justo, nós, os portugueses termos prestado uma maior homenagem a esta artista que toda a vida fez muito por aquilo que todos achamos importante para Portugal; a lusofonia…
Seria bom que os consultores ou assessores, como lhes queiram chamar, da presidência e do governo no nosso país que só se dedicam à cultura, pudessem estar atentos a quem aproxima por mera paixão, culturas diferentes, povos diferentes, mas sempre em português…
A nossa Sara Tavares não era uma estrela mundial mas era a nossa estrela da chuva de estrelas, era a representante e a voz de uma geração que já nasceu num Portugal livre e que se soube adaptar sem gritos de revolta e com admiração pela História da música portuguesa, pela história da música cabo-verdiana e pela história e influência da restante música lusófona, tentando desta forma abrir sempre novos caminhos em direção a uma nova sonoridade lusófona.
Recordaremos sempre que o “Balancê” de Sara Tavares foi muito mais original do que as divas americanas nos mostraram lá do outro continente…Recordaremos sempre que a sua música tinha a ver connosco, com a bondade de nos fazer refletir em Deus e naquilo em que só ele sabe o que passa em cada um de nós… A música de Sara Tavares ensinou-nos a sentir, a refletir e a acreditar… sempre com alegria e com o exemplo de uma menina que nos ensinou a atitude certa de como encarar a vida…
Sempre que ouvirmos a sua música, chamaremos pela Sara de forma a ela ser eterna entre nós e ao seu legado prevalecer pelo tempo, como o Sol que todos os dias nos aparece.
Descansa em paz querida Sara ❤
Autor: Paulo Freitas do Amaral, Professor de História