A dimensão e relevância da emigração no território nacional, uma constante estrutural da sociedade portuguesa, têm impelido a construção nos últimos anos, um pouco por todo o país, de vários monumentos ao emigrante, com o objetivo de reconhecer e homenagear o contributo que prestam ao desenvolvimento das suas terras de origem.
Como observam as sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira, em Emigração, Identidade, Educação: Mitos, Arte e símbolos Lusitanos, este fenómeno de construção de monumentos ao emigrante «marca na atualidade a paisagem portuguesa», sendo em grande medida o reflexo da «alma de um povo lutador, trabalhador, fazedor de mitos que, pelas mais variadas razões, não hesita em dobrar fronteiras».
Menos conhecidos do público em geral, mas não menos repletos de simbolismo e sentimento pátrio, são também vários os exemplos de monumentos aos emigrantes portugueses erigidos ao longo dos anos no seio da Diáspora, perpetuando simultaneamente, o inestimável papel que os mesmos dinamizam nas pátrias de acolhimento, e acalentando a sua filiação à pátria de Camões.
Por exemplo, em França, foi inaugurado em 2008, um monumento de homenagem à comunidade portuguesa, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas. A obra do escultor português, Rui Chafes, intitulada “Venho de ti/Je viens de toi”, encontra-se instalada no Parc Départemental du Plateau, em Champigny, um antigo enorme bairro de lata que, em plena epopeia da emigração lusa para França nos anos 60, albergou mais de uma dezena de milhares de portugueses.
Na América do Norte, onde residem das mais numerosas e dinâmicas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, encontram-se alguns dos mais emblemáticos monumentos que assinalam a herança portuguesa. É o caso do Canadá, cuja comunidade lusa se destaca pela atividade associativa, económica e sociopolítica, e cujas raízes da comunidade portuguesa remontam a 13 de maio de 1953, época do desembarque em Halifax, província de Nova Escócia, dos primeiros emigrantes portugueses.
No entrecho deste legado histórico, foi inaugurado em 1978, no âmbito dos 25 anos da presença portuguesa no Canadá, o “Monumentos dos Pioneiros” no High Park. Um monumento de granito e mármore que ocupa desde então um papel basilar nas festividades do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, sempre celebradas fervorosamente pela comunidade luso-canadiana em Toronto, metrópole onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá.
Ainda este ano, no âmbito do 70.º aniversário da emigração portuguesa para o Canadá, foi inaugurada na Camões Square em Toronto, espaço simbólico que albergava já monumentos como a Fonte dos Pioneiros Portugueses, um Mural de Azulejos e o Portuguese Canadian Walk of Fame, uma escultura imponente encomendada pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, designada “Anjo da Guarda”. Esculpida em mármore de Estremoz pelo escultor português, Paulo Neves, é composta por sete peças, cada uma delas representativa de uma década de emigração.
Mais a sul, no Brasil, onde continua a residir a maior comunidade lusa da América Latina, encontram-se dois exemplos significativos da eternização do fluxo migratório e da importância da presença portuguesa no vasto país sul-americano. Mormente, em Porto Alegre, município e capital do estado mais meridional do Brasil, o Rio Grande do Sul, onde foi inaugurado em 26 de março de 1974, aniversário da cidade, o “Monumento dos Açorianos”, em homenagem à chegada no séc. XVIII dos primeiros sessenta casais açorianos que povoaram a cidade. O monumento majestoso de linhas futuristas, localizado no Largo dos Açorianos, e assinado pelo escultor Carlos Tenius, recentemente restaurado e revitalizado, tem inscrito uma frase lapidar: “Jamais sonhariam aqueles casais açorianos, que da semente que lançavam ao solo nasceria o esplendor desta cidade”.
Também no Brasil, mas em agosto de 1996, foi inaugurado em Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, o “Monumento ao Povoamento Açoriano”. Construído na cabeceira continental da ponte Pedro Ivo Campos, que liga a Ilha de Santa Catarina ao continente, e assinado pelo artista plástico Guido Heuer, a iniciativa do monumento foi promovida pela Universidade Federal de Santa Catarina (NEA), a Prefeitura Municipal de Florianópolis e o Governo Regional do Açores, constituindo uma singular homenagem aos açorianos espalhado pelo sul do Brasil.
Estes monumentos, e outros que se encontram ou possam vir a ser projetados nas pátrias de acolhimento dos portugueses espalhados pelo mundo, são uma indubitável mais-valia na perpetuação da memória da emigração lusa. Como salientam as investigadoras Eloisa Ramos e Luciana de Oliveira, no artigo Sobre história, memória e patrimônio no Sul do Brasil – monumentos aos açorianos em Porto Alegre e Florianópolis, erigir «monumentos, neste contexto, é comemorar e é, também, prestar homenagem, já que um monumento, como nos diz o Dicionário da língua portuguesa é, em primeiro lugar, “[…] uma obra de arte levantada em honra de alguém, ou para comemorar algum acontecimento notável”».
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor