Em Matosinhos sempre houve, ao longo dos anos, tendência para usar testas-de-ferro políticos na autarquia.
Sempre foi a pretensão de um presidente e de um político que nunca chegou a ser presidente. Colocam no poder pessoas próximas, seus colaboradores, na esperança que atuem como seus testas-de-ferro políticos, continuando, no entanto, a mandar.
Narciso Miranda, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos de 1979 a 2005, ensaiou uma saída para Secretário de Estado da Administração Marítima e Portuária no governo de António Guterres, contudo esteve lá pouco tempo, cerca de um ano (entre 28 de setembro de 1999 e 18 de outubro de 2000), e como viu as coisas mal paradas voltou a Matosinhos e a relação com Manuel Seabra deteriorou-se. Manuel Seabra, número dois, que o tinha substituído na presidência da câmara, começou a governar à sua maneira, mas Narciso Miranda não gostou e, não lhe restou outra solução. Seguir rumo a Lisboa.
Mais tarde, depois dos trágicos acontecimentos da morte de Sousa Franco, o PS decidiu não permitir que Narciso Miranda se recandidatasse. Guilherme Pinto ocupou o seu lugar, mas nunca se sujeitou a ser um testa-de-ferro de Narciso Miranda, emancipando-se quer de Narciso Miranda quer do PS. E concorreu como independente.
Mas Eduardo Pinheiro é o protótipo de testa-de-ferro. Número dois de Guilherme Pinto assumiu a presidência da câmara por falecimento de Guilherme Pinto que tinha sido eleito como independente, e voltou ao PS, assumindo o lugar de número dois de Luísa Salgueiro. Mais tarde, pelo seu bom comportamento, foi nomeado Secretário de Estado da Mobilidade, mas depois de ter assinado o aval da construção do hotel na praia da Memória.
Recentemente temos o caso paradigmático de Luísa Salgueiro, que teve todo o apoio de Manuel Pizarro que a impôs como candidata à câmara, contra a vontade expressa e votada da concelhia do PS de Matosinhos, liderada por Ernesto Páscoa, que o tinha escolhido para ser ele candidato.
Manuel Pizarro sempre ambicionou liderar a CM Porto, mas como até agora se tem visto, não o consegue fazer, e contenta-se em colocar alguém da sua estrita confiança em Matosinhos.
Na cidade de Matosinhos uma pessoa aparece como responsável pela condução dos destinos de Matosinhos, mas o verdadeiro líder mantém-se no anonimato. Matosinhos não pode dar-se ao luxo de ter alguém de fachada, que assume o lugar de líder, mas sem poder.
Este foi o preço de Matosinhos aceitar ter uma pessoa do agrado de Manuel Pizarro.
Entenda-se que não estou a fazer considerações de ordem pessoal, mas estritamente políticas. Matosinhos não se pode contentar em ter uma figurehead, que aparenta assumir um papel de liderança, mas na realidade sem autoridade.
Matosinhos merecia ter outro tipo de opções. Vê-se pela condução política o dano que tem causado, a falta de liderança e o ter que consultar o seu tutor.
Vicente Jorge Silva, antigo director do jornal Público e distinto jornalista, ensinou-me uma coisa que nunca mais me esqueci. Um dia num jantar em Lisboa, às páginas tantas, disse-me: “o perfil de um político vê-se pela forma como ascende ao poder e pela forma como abandona o poder.”
Matosinhos enferma de “continuismo”, e “testa-de-ferrismo”.
A forma de governar é imperfeita e descabida, contudo o seu uso é difícil de impedir, mas é importante identificá-lo, denunciá-lo e erradicá-lo.
Autor: Joaquim Jorge, biólogo, fundador do Clube dos Pensadores e Matosinhos Independente