No decurso das últimas décadas o estudo sobre o fenómeno migratório tem sido profusamente enriquecido com um conjunto diversificado de atividades e trabalhos que têm dado um importante contributo para o conhecimento da emigração portuguesa.
Neste entrecho, destaca-se indubitavelmente o percurso ativo e dedicado da professora Manuela Marujo, cuja experiência de vida como emigrante, docente na Universidade de Toronto no Departamento de Espanhol e Português entre 1985-2017, e atualmente Professora Associada Emérita dessa universidade. Assim como de colaboradora da imprensa da diáspora e autora de bibliografia sobre matérias relacionadas com as migrações, a catapultam para uma das cientistas sociais hodiernas que mais tem contribuído para o conhecimento da emigração portuguesa, em particular, do papel das mulheres no seio da emigração.
Um dos lados, como refere Irene Vaquinhas, professora catedrática do Departamento de História, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e uma das mais conceituadas investigadoras no domínio da História das mulheres e do género, “menos conhecido e estudado do fenómeno migratório”.
Licenciada em Filologia Germânica pela Universidade Clássica de Lisboa e com um mestrado e um doutoramento em educação pela Universidade de Toronto, Manuela Marujo, que lecionou e fez formação de professores de Língua e Cultura Portuguesa em vários países e deu inúmeras palestras pelo mundo, nasceu em 1949, em Santa Vitória, no concelho de Beja.
No âmbito do seu percurso humanista e de “alma de viajante”, a académica com raízes alentejanas, que ainda recentemente lançou na Galeria dos Pioneiros em Toronto, o livro de crónicas de viagem Canadá, Olhares e Percursos de uma Portuguesa Curiosa, tem empreendido uma notável dinâmica na organização de iniciativas ligadas à temática da emigração.
Particularmente no universo da emigração no feminino, como assevera, por exemplo, o seu papel decisivo na criação das redes “A Vez e a Voz da Mulher Imigrante Portuguesa” e “A Vez e a Voz dos Avós”, cujas conferências internacionais têm dado voz às mulheres, de ontem e de hoje, das suas experiências no seio da emigração e da sociedade portuguesa, em diversas instituições de ensino superior nacionais e estrangeiras.
Colaboradora da imprensa de língua portuguesa no mundo, como é o caso do Milénio Stadium, um jornal de referência da comunidade luso-canadiana, onde regularmente versa temáticas da sua “alma de viajante”, da lusofonia e do fenómeno migratório, Manuela Marujo é igualmente autora e coautora de relevantes artigos e obras ligadas à emigração portuguesa. Como, por exemplo, “Passos de Nossos Avós”, onde é enfatizado o papel importante dos mesmos no seio familiar, principalmente na formação e educação dos seus membros mais jovens; ou o livro bilingue “A Primeira vez que eu vi Neve”, uma obra no campo da literatura infantil que apela à motivação para o despertar científico.
O percurso ativo e dedicado da professora Manuela Marujo, membro integrante do comité organizador das celebrações dos 70 anos da emigração portuguesa no Canadá, que se assinalam este ano e cujas raízes remontam a um grupo pioneiro de emigrantes portugueses que desembarcaram a 13 de maio de 1953, em Halifax, na Nova Escócia, concorreu para que em 2004 fosse agraciada com o grau de comendadora da Ordem do Infante D. Henrique, uma ordem honorífica nacional que visa distinguir a prestação de serviços relevantes a Portugal, no país ou no estrangeiro. E em 2017, tenha sido distinguido na cerimónia do Portuguese Canadian Walk of Fame, uma iniciativa que se realiza anualmente em Toronto, e que tem como principal objetivo realçar os percursos de sucesso de luso-canadianos para que sirvam de inspiração às gerações vindouras.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor