A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano (“the American dream”).
Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças à capacidade de trabalho e de mérito, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de José Luís Vale, um reconhecido empresário na área da construção civil em Nova Jérsia.
Natural de Casal dos Crespos, freguesia de Nossa Senhora da Piedade, concelho de Ourém, José Luís Vale emigrou para os Estados Unidos na década de 1980, na esteira de milhares de compatriotas à procura de melhores condições de vida.
A chegada ao território americano, onde entretanto casou e constituiu família, vincou um percurso de vida forjado no trabalho, esforço e resiliência, premissas que transformaram o antigo serralheiro oureense num relevante empresário no ramo da construção civil nos EUA.
Conhecido por cultivar a simplicidade, discrição e humildade, assim como os valores da família e a firmeza da amizade, José Luís Vale sobressai indelevelmente por manter uma estreita ligação ao torrão natal, como corrobora o seu investimento hoteleiro em Fátima.
Mas o profundo apego às suas raízes tem-se manifestado paradigmaticamente ao longo dos últimos anos, na dinamização de várias iniciativas de apoios aos Bombeiros Voluntários de Ourém, uma entidade de utilidade pública e carácter humanitário que remonta aos primórdios da Primeira República.
O extraordinário sentimento benemérito do empresário luso-americano, ele que foi também bombeiro em Ourém antes de se ter fixado em Newark, a cidade mais populosa do estado de Nova Jérsia, tem possibilitado encontrar formas e meios para apetrechar os Bombeiros Voluntários deste concelho do Médio Tejo.
Entre várias iniciativas, destaca-se por exemplo, a que dinamizou em 2016 no PISC, clube português da cidade de Elizabeth, Nova Jérsia, que juntou centenas de conterrâneos e compatriotas, e que permitiu angariar 50 mil dólares que reverteram para os Bombeiros Voluntários de Ourém.
A sua constante e desprendida generosidade com os Bombeiros de Ourém, contribuiu para que no âmbito do 106.º aniversário da corporação humanitária, a chegada de um novo Veículo Florestal de Combate e Incêndios (VFCI-10) fosse apadrinhado pelo casal José Luís Vale e Edite, tendo o mesmo sido benzido com o nome de “Golden Eagle – Comunidade Luso-Americana”.
Contexto que tem levado igualmente a associação oureense a homenageá-lo e a enaltecer diversas vezes o seu espírito filantropo em prol da corporação. Assim como, a Liga dos Bombeiros Portugueses, que se constitui como a confederação das Associações e Corpos de Bombeiros voluntários ou profissionais no território nacional, e que lhe atribuiu em 2019, a Medalha de Serviços Distintos – Grau Ouro.
Uma condecoração justa e merecida, que destina-se a galardoar elementos dos Corpos de Bombeiros, dirigentes dos órgãos sociais das entidades detentoras de Corpos de Bombeiros e das Federações Regionais ou Distritais de Bombeiros e Liga dos Bombeiros Portugueses. Bem como indivíduos e entidades da sociedade civil, pela prática de Serviços Distintos que contribuíram com notável evidência para o engrandecimento e prestígio das instituições de Proteção e Socorro.
Sem nunca esquecer as suas raízes, e nunca abdicando da humildade e seriedade, o exemplo de vida do emigrante e empresário benemérito José Luís Vale, inspira-nos a máxima do escritor francês Honoré de Balzac, considerado o fundador do Realismo na literatura moderna: “Seja no que for, só se recebe na medida do que se dá.”
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor.