No decurso da semana passada, fomos surpreendidos com a triste notícia do falecimento do embaixador da cultura minhota no Brasil, Agostinho Santos, presidente da Casa do Minho do Rio de Janeiro, e uma das figuras mais gradas da maior comunidade lusa na América Latina.
Natural de Cinfães do Douro, onde nasceu em 10 de agosto de 1944, Agostinho Santos emigrou para o Brasil no final dos anos 50, na companhia da mãe e dos irmãos mais novos, ao encontro da figura paterna que emigrara anos antes em demanda de melhores condições de vida.
Profundamente apaixonado pela cultura minhota, o emigrante duriense entrou no Rancho Folclórico da Casa do Minho no Rio de Janeiro, onde foi dançarino, acordeonista e depois diretor do grupo folclórico até ao ano de 1975. No alvorecer da década de 1980, foi eleito presidente da Casa do Minho, cargo que ocupava hodiernamente, transformando a agremiação numa embaixada de referência das tradições minhotas no Brasil, através de uma relação estreita com o Santoinho, o típico e reconhecido arraial minhoto localizado em Darque, freguesia do município de Viana do Castelo.
A relação muito próxima com Viana do Castelo foi reconhecida em 2017, quando a edilidade do Alto Minho lhe atribuiu a distinção de Cidadão de Honra, sendo que inclusive no ano seguinte, o minhoto adotivo presidiu à Comissão de Honra da Romaria da Senhora d’Agonia, uma das maiores festas populares de Portugal.
No campo da intervenção associativa e social, Agostinho Santos destacou-se ainda pelo papel relevante que desempenhou à frente da Obra Portuguesa de Assistência no Rio de Janeiro, fundada em 14 de outubro de 1921, e da qual assumiu a presidência em 1985. Uma das vertentes de atuação da Obra é o Hospital Egas Moniz, recentemente modernizado, e que apesar das dificuldades tem auxiliado a comunidade luso-brasileira na área da saúde e cuidados médicos, em especial no apoio à terceira idade.
Diretor do Real Gabinete Português de Leitura, símbolo incontornável da cultura lusófona no Rio de Janeiro, e sócio conselheiro de várias instituições luso-brasileiras, o percurso de vida generoso de Agostinho Santos, o seu sentido de missão e profundo apego à cultura portuguesa, particularmente à minhota, concorreram para que recebesse o título de Comendador do Governo Português por serviços prestados à Pátria. E inspiram-nos a máxima do filósofo e escritor José Luís Nunes Martins: “Talvez o sentido da vida não seja assim tão complicado: Amar para ser feliz, realizando sonhos”.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor.