O tempo mais frio está a chegar, as empresas estão a desconfinar, as aulas estão a começar e, de acordo com as últimas estatísticas, o aumento de casos de COVID-19 tem estado diretamente relacionado com a aproximação das famílias. Adicionalmente, todos os dias observamos colegas de trabalho nos seus momentos de lazer, a almoçar e/ou a tomar café, frente a frente nos restaurantes e sem máscara.
Por isso, a preocupação é generalizada e racional: a população dificilmente conseguirá distinguir a gripe da COVID-19. Os sintomas são muito semelhantes e, para dificultar o processo, continuamos a ter muitos casos positivos em pessoas com manifestações ligeiras, para além do grande número de assintomáticos. Até a comunidade médica terá dificuldade em distinguir estas duas infeções na perfeição, uma vez que não é possível fazê-lo clinicamente e de forma direta. Os médicos estão sensibilizados para essa situação e a indicação que têm é para “testar, testar, testar”. Testar sempre que estiverem perante quaisquer sintomas respiratórios.
O diagnóstico continuará a ser efetuado através da realização de testes laboratoriais ao SARS-CoV-2 e/ou adicionalmente ao vírus da gripe, dependendo das circunstâncias. Atualmente, nos hospitais, a prioridade é testar os doentes para o novo coronavírus. No entanto, na altura em que os vírus cocircularem poderá fazer sentido a realização dos dois testes, para despistar casos de coinfeção. Obviamente, cada caso é único e a situação terá de ser avaliada pelo médico. Na altura em que o vírus da gripe estiver em circulação, fará sentido fazer os dois testes rápidos e fiáveis a ambos os vírus, situação para a qual os laboratórios clínicos estão muito bem equipados e preparados.
Com a circulação destes dois vírus, é também importante fazer-se um reforço da vacinação para a gripe. No entanto, é preciso alertar que a vacina pode prevenir a gripe, mas que sobretudo protege contra as suas complicações. Há muitos casos de gripe em pessoas vacinadas, pelo que todas as pessoas devem ser também testadas.
A circulação, em simultâneo, do SARS-CoV-2 e do vírus da gripe em nada deve alterar a nossa atuação perante a desconfiança de uma possível infeção. Pelo contrário, devemos até reforçar. Em caso de sintomas de uma possível infeção respiratória, a população deve contatar a linha SNS24 ou o seu médico. E, acima de tudo, não baixar a guarda e seguir as recomendações de prevenção: lavar as mãos com água e sabão durante, pelo menos 20 segundos; evitar tocar nos olhos, nariz e boca; manter o distanciamento social em situações profissionais e de lazer; ficar em casa se estiver doente; e desinfetar mãos, objetos e superfícies que sejam tocadas regularmente.
Autor: Paulo Paixão, Presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia e Médico Virologista da SYNLAB Portugal