A freguesia de Cepães, uma povoação do concelho de Fafe, distrito de Braga, com intensa atividade industrial e aptidão agrícola, ao longo dos últimos quatro anos foi palco de um original projeto comunitário em rede que envolveu toda a comunidade local em torno de histórias e memórias da emigração.
Partindo dos percursos migratórios do final do século XIX e do século XX para o Brasil e França, assim como das expressões materiais e simbólicas do ciclo de retorno dos emigrantes que marcam indelevelmente a região do Vale do Ave. E em particular o concelho de Fafe, contexto que impeliu a edilidade minhota a instituir no clarear do séc. XXI o Museu das Migrações e Comunidades, o grupo local EnfimTeatro, núcleo dramático da Sociedade de Recreio Cepanense, desenvolveu desde o primeiro trimestre de 2017 o projeto comunitário Erosão, tendo em vista a dinamização de atividades culturais.
Entre as várias atividades impulsionadas destacou-se a realização do filme Erosão. Uma pelicula inspirada no texto dramático “Terra Firme”, de Miguel Torga, um dos mais influentes escritores portugueses do século XX, ele próprio emigrante no Brasil nos anos 20, que retrata a longa e penosa espera de um filho há vinte anos ausente.
Os pilares fundamentais do filme Erosão, cuja antestreia ocorreu no decurso deste mês no Teatro Cinema de Fafe, assentam num profundo compromisso com as metamorfoses, linguagens, hábitos e tradições da comunidade local, assim como nos termos viagem, emigração, esperança, utopia, paisagem, património material e imaterial.
Como defendem os responsáveis da pelicula cinematográfica, estamos perante um trabalho planeado, suportado e executado, todo ele, por não-atores e elementos que pela primeira vez experimentaram determinados meios técnicos e materiais, pessoas que nunca haviam conhecido o caminho de aproximação, senão em sonho, à ideia de um filme.
Mais que uma abordagem original ao fenómeno migratório, o filme Erosão, que se encontra disponível para ser visualizado no território nacional e nas comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, é um reflexo coletivo da valorização da emigração portuguesa, parte integrante da nossa história e da nossa identidade.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor