Paralelamente à obesidade, a prevalência da doença renal crónica (DRC) está a aumentar, com estimativas que rondam os 8-16% em todo o mundo.
A obesidade está associada à progressão da DRC, independentemente da patologia subjacente. Contudo, os mecanismos pelos quais a obesidade inicia e/ou está envolvida na progressão da DRC não são bem compreendidos.
Paradoxalmente, na doença renal crónica terminal (doentes hemodialisados), a obesidade está associada a uma melhor sobrevida. Nestes doentes, a perda de peso foi associada a uma mortalidade mais elevada. No entanto, a desnutrição e outros processos patológicos que causam perda de peso não intencional podem assumir um papel confundidor.
Apesar da obesidade ser um problema importante nos doentes com DRC, o tratamento da obesidade nestes doentes não tem merecido a atenção devida. As intervenções no estilo de vida são a primeira linha de tratamento em todos os doentes. Contudo, eles são bem-sucedidos apenas em uma minoria. A segunda opção de tratamento é a cirurgia bariátrica, que é segura em doentes com DRC e leva à perda de peso profunda e sustentada, estando associada a um efeito renoprotetor e a um melhor controlo dos fatores de risco para DRC. A terceira opção é a farmacoterapia. Os medicamentos antiobesidade existem há muito tempo, mas a maioria oferecia apenas uma modesta perda de peso e estava associada a muitos efeitos colaterais. Nos últimos dois anos surgiram avanços farmacológicos promissores no tratamento da obesidade. Aguardam-se resultados de estudos mais definitivos no cenário de pacientes com DRC.
Dia Mundial da Obesidade, 4 de março.
Autor: Luís Coentrão, Nefrologista, ULS S. João, Membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Nefrologia