O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade em Portugal e no mundo. Estima-se que uma em cada quatro pessoas sofrerá um AVC ao longo da vida. Em Portugal, o AVC representa a principal causa de morte e é responsável por um elevado número de casos de incapacidade permanente, o que tem um impacto significativo na qualidade de vida dos doentes e nas suas famílias.
O Que é o AVC?
O AVC ocorre quando há uma interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro, resultando em morte das células cerebrais na área afetada. Pode ser classificado em dois tipos principais:
- AVC isquémico (cerca de 80% dos casos): Causado pela obstrução de um vaso sanguíneo no cérebro devido a um coágulo. Pode resultar de aterosclerose (formação de placas nas artérias), trombose ou embolia (quando um coágulo se desloca até ao cérebro).
- AVC hemorrágico (cerca de 20% dos casos): Ocorre quando um vaso sanguíneo se rompe, causando uma hemorragia cerebral. As principais causas incluem hipertensão arterial não controlada, aneurismas cerebrais e malformações vasculares.
Sintomas de AVC: Como Reconhecer?
Os sintomas do AVC aparecem de forma súbita e variam conforme a área do cérebro afetada. Os sinais mais comuns incluem:
- Fraqueza ou dormência num dos lados do corpo (braço, perna ou face);
- Assimetria facial, com um lado da boca descaído;
- Dificuldade na fala, como discurso arrastado ou incapacidade de articular palavras;
- Perda de visão parcial ou total, especialmente em um dos olhos;
- Tonturas e desequilíbrio, podendo levar a quedas repentinas;
- Dor de cabeça intensa e súbita, sem causa aparente, mais frequente nos casos de AVC hemorrágico.
Fatores de Risco: O Que Pode Aumentar a Probabilidade de Ter um AVC?
Os fatores de risco para o AVC dividem-se em dois grupos:
- Fatores de risco não modificáveis: Idade avançada, histórico familiar de AVC, género (os homens têm maior risco, mas as mulheres têm piores prognósticos) e doenças genéticas.
- Fatores de risco modificáveis: Hipertensão arterial (o principal fator de risco), diabetes, colesterol elevado, tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade, sedentarismo e arritmias cardíacas (especialmente fibrilhação auricular).
O Que Fazer em Caso de Suspeita de AVC?
O AVC é uma emergência médica, e o tempo de resposta é crucial para minimizar danos cerebrais. Para identificar rapidamente um AVC, utilize a regra dos três “Fs”:
- Fala – Peça à pessoa para dizer uma frase simples. Se a fala estiver arrastada ou incompreensível, pode ser um sinal de AVC.
- Face – Peça à pessoa para sorrir. Se um lado do rosto estiver descaído, pode ser um sinal de AVC.
- Força – Peça à pessoa para levantar os dois braços. Se um deles não conseguir ser levantado ou cair, pode ser um sinal de AVC.
Se notar algum destes sinais, ligue de imediato para o 112. O tratamento precoce pode fazer toda a diferença na recuperação do doente.
Diagnóstico do AVC
Após a chegada ao hospital, os médicos utilizam diversos exames para confirmar o diagnóstico e determinar o tipo de AVC:
- Tomografia Computorizada (TC): Permite distinguir entre AVC isquémico e hemorrágico.
- Ressonância Magnética (RM): Mais sensível para identificar pequenas áreas afetadas no cérebro.
- Exames de sangue e eletrocardiograma: Para avaliar fatores de risco associados, como níveis de açúcar no sangue e presença de arritmias cardíacas.
Tratamento do AVC
O tratamento depende do tipo de AVC e da rapidez com que o doente recebe assistência médica:
- AVC isquémico:
- Administração de trombolíticos (medicação que dissolve coágulos), se o doente for tratado nas primeiras 4,5 horas após o início dos sintomas.
- Trombectomia mecânica (remoção do coágulo por cateter), indicada para casos graves até 24 horas após o AVC.
- AVC hemorrágico:
- Controlo rigoroso da pressão arterial para reduzir o risco de hemorragia adicional.
- Cirurgia, nos casos em que o hematoma causa pressão significativa no cérebro.
Reabilitação Após um AVC
A recuperação de um AVC varia consoante a gravidade do caso e a área cerebral afetada. A reabilitação pode incluir:
- Fisioterapia: Para recuperar a mobilidade e reduzir a fraqueza muscular.
- Terapia ocupacional: Para ajudar o doente a readquirir autonomia em atividades diárias.
- Terapia da fala: Essencial para quem desenvolve dificuldades na comunicação.
- Reabilitação cognitiva: Para melhorar a memória, atenção e raciocínio.
Como Prevenir um AVC?
A prevenção é fundamental para reduzir o risco de AVC. As principais medidas incluem:
- Controlo da pressão arterial: Medir regularmente a tensão e seguir recomendações médicas.
- Alimentação equilibrada: Reduzir o consumo de sal, gorduras saturadas e açúcar, priorizando frutas, vegetais e alimentos ricos em fibras.
- Atividade física regular: Pelo menos 30 minutos de exercício moderado, 5 dias por semana.
- Cessação tabágica e redução do consumo de álcool: O tabaco e o álcool aumentam significativamente o risco de AVC.
- Monitorização de doenças crónicas: Como diabetes e fibrilhação auricular, que aumentam o risco de formação de coágulos.
O AVC é uma condição grave, mas pode ser prevenido através de um estilo de vida saudável e do controlo dos fatores de risco. O reconhecimento rápido dos sintomas e o acesso imediato a tratamento médico são essenciais para aumentar as hipóteses de recuperação e reduzir as sequelas.
Em caso de suspeita de AVC, tempo é cérebro. Lembre-se dos sinais: alteração na fala, no rosto e na força. Não hesite: ligue 112 imediatamente.
Autora: Diana Melancia, Médica Neurologista CNS – Campus Neurológico