Comendador Carlos Andrade: o “rei dos donuts” nos Estados Unidos

Daniel Bastos, Historiador e Escritor
Daniel Bastos, Historiador e Escritor. Foto: DR

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora e benemérita como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso, e desempenham funções de relevo a nível cultural, económico, político e social.

Nos vários exemplos de empreendedores portugueses da diáspora, uma incontornável mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e singular do comendador Carlos Andrade, um dos mais destacados empreendedores da numerosa comunidade portuguesa nos Estados Unidos da América (EUA).

Natural da Ribeira Seca, freguesia do município de Vila Franca do Campo, na costa sul da ilha açoriana de São Miguel, Carlos Andrade emigrou em 1967, no alvorecer da maioridade, com os pais para Montreal, a maior cidade da província do Quebeque, no Canadá. Um dos mais importantes destinos para muitos emigrantes portugueses, em particular açorianos, que nessa época, marcada na pátria de origem pela estreiteza de horizontes, falta de liberdade, pobreza e guerra colonial, partiram para a América do Norte à procura de melhores condições de vida.

Seria, no entanto, nos Estados Unidos, mais concretamente na vila de Bristol, no estado norte-americano de Rhode Island, onde existe uma grande comunidade de portugueses vindos em grande parte do arquipélago dos Açores, que Carlos Andrade e os seus pais, fixariam definitivamente, em 1974, a sua senda migratória.

Com um percurso de vida trilhado no encalço do sonho americano (“the American dream”), o emigrante açoriano entrou em 1975 na Dunkin Donuts University, em Quincy, Massachusetts, onde encetou uma base sólida de formação, no seio da reputada multinacional norte-americana especializada na venda de donuts, café e gelados. Iniciando, a partir de então, uma trajetória socioprofissional fulgurante de ascensão na escala social, graças a capacidades extraordinárias de trabalho, mérito e resiliência.

Em 1978, o empreendedor vila-franquense, adquiriu a sua primeira pastelaria Dunkin Donuts, na vila de Raynham, Massachusetts, dando início à alavancagem de um império empresarial, fundamentalmente estabelecido na Nova Inglaterra, na região nordeste dos Estados Unidos, mormente nos estados de Massachusetts, Connecticut, Rhode Island e New Hampshire. Um império empresarial assente em mais de meio milhar de lojas, às quais se juntam ainda as lojas Dunkin Donuts abertas por outros luso-americanos, também em regime de franchising, que em conjunto com a maior central de produção para abastecimento de Dunkin Donuts nos EUA, empregam na Nova Inglaterra e Nova Iorque, milhares de pessoas, muitas delas portugueses e brasileiros.

O comendador Carlos Andrade (dir.), na Dunkin Joy Gala 2024. Foto: DR

O esforço hercúleo, o sentido de família e a dedicação laboriosa de Carlos Andrade, sublimaram um empresário de sucesso que nunca descurou a responsabilidade social. Radicado há meio século nos Estados Unidos, o sucesso que o emigrante luso-americano alcançou no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma notável dimensão filantropa nas comunidades de acolhimento e de origem.

É o caso, por exemplo, dos financiamentos que ao longo dos anos tem prestado ao New England Center for Children, uma estrutura especializada em serviços abrangentes para crianças com autismo; ou ao Dana-Farber Cancer Institute, um centro de tratamento inovador no tratamento do cancro. Assim como, a criação do “Scholarship of Dunkin Donuts for New England”, que até aos dias de hoje, atribuiu centenas de milhares de dólares em bolsas de estudo universitárias.

O apoio que no decurso dos últimos anos tem concedido ao torrão arquipelágico, nomeadamente em Vila Franca do Campo, a diversas instituições sociais, culturais e desportivas, impeliu em 2009, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores a atribuir-lhe a “Insígnia Autonómica do Mérito Industrial”. E, em 2015, Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, a mais alta distinção do concelho, a Medalha de Ouro e Diploma de Cidadão Honorário.

Não por acaso, quatro anos antes da distinção da edilidade vila-franquense, Carlos Andrade foi agraciado pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, numa cerimónia na residência oficial do embaixador de Portugal em Washington, com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique. Uma distinção, justa e merecida, com uma ordem honorífica portuguesa, que visa reconhecer a prestação de serviços relevantes a Portugal, no país ou no estrangeiro.

Uma das figuras mais proeminentes da comunidade portuguesa nos Estados Unidos da América, pátria de acolhimento há meio século onde é conhecido como o “rei dos donuts”, o percurso singular do comendador Carlos Andrade, que foi nomeado “Filantropo do Ano 2015 da Dunkin’ Donuts”, recorda-nos a máxima do poeta romântico francês Alfred de Vigny: “Há algo de tão magnífico com um grande homem: um homem de honra”.

Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor