Passados mais de 30 anos do início da epidemia da infeção VIH/SIDA, talvez tenhamos a tentação de pensar que a situação está controlada e que podemos cruzar os braços no que diz respeito às medidas de prevenção. Mas esta não é a verdade.
Ainda que o número de infeções tenha reduzido significativamente, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes a 2018, percebermos que há 37,9 milhões de pessoas que vivem com o VIH, sendo que 1,7 milhões são infeções de novo (em 1997 atingimos o pico de 2,9 milhões). Ainda há caminho a percorrer para atingirmos as metas definidas pela OMS dos 90-90-90 para 2020, isto é, 90 por cento das pessoas que vivem com o vírus estarem diagnosticadas, 90 por cento dessas em tratamento e dos que estão em tratamento 90 por cento com carga viral indetetável.
Em Portugal, o panorama é mais animador e parece-nos estarmos a atingir as metas. Assim, nos dados nacionais referentes a 2017, 91,7 por cento das pessoas que vivem com o vírus estão diagnosticadas, 86,8 por cento dessas estão em tratamento e 90,3 por cento têm carga viral indetetável. Mas não podemos parar por aqui, até porque novas metas estão lançadas: os 95-95-95 até 2030!
Temos de continuar a apostar na prevenção, de modo a que as pessoas infetadas se possam proteger a si mesmas e proteger os outros. É importante o diagnóstico precoce, disponibilizando testes de rastreio, sem que haja lugar a qualquer tipo de discriminação ou de estigma. Hoje, felizmente, há a possibilidade de fazer esses testes nos serviços de saúde, nos CAD (Centros de Aconselhamento e Deteção Precoce), em muitas organizações da comunidade e, mais recentemente, de os adquirir nas farmácias de ambulatório.
Não é demais salientar a importância dos diagnósticos precoces, até porque apesar do número de infeções em Portugal ter diminuído significativamente, a taxa de diagnóstico tardio da doença é no nosso país uma das mais altas da União Europeia. De referir ainda a necessidade do rastreio de outras infeções que muitas vezes acompanham esta, como as hepatites B e C, para além de outras de transmissão sexual. É importante a educação para a saúde, estimulando práticas de sexo seguro e novas modalidades de prevenção (como a Profilaxia pré-exposição – PrEP; Profilaxia pós Exposição – PEP; o uso de material esterilizado no consumo de drogas endovenosas; etc.).
Não podemos parar de divulgar informação correta, dirigida a toda a população e, sobretudo, aos jovens e às populações mais vulneráveis. É importante que os profissionais de saúde vão atualizando os seus conhecimentos nesta área, apostando na sua formação contínua, ficando assim habilitados para o aconselhamento pré e pós testes de rastreio, tendo sempre em vista o maior respeito pela dignidade e direitos da pessoa.
O lema deste ano para o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, que terá lugar a 1 de dezembro, é: “As comunidades marcam a diferença”. Este lema parece-me muito oportuno pelo reconhecimento do papel que as comunidades desempenham na resposta à infeção pelo VIH, fazendo-nos cair na conta de que este problema e a sua solução não passa só pelos serviços médicos especializados.
O desafio do controlo da infeção está lançado a todos. Vamos trabalhar juntos e tornar realidade o sonho de pôr “stop” à infeção! Vamos, profissionais de saúde e comunidade, marcar a diferença!
Autora: Helena Sarmento, Internista e Membro do NEDVIH
O Núcleo de Estudos da Doença VIH (NEDVIH) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) centra a sua atuação na investigação, formação e consciencialização de profissionais de saúde e da população no âmbito da doença VIH. Este grupo é constituído por internistas associados da SPMI, que seguem e tratam estes doentes, em consultas de especialidade, nos principais hospitais do país.