Quando comemoramos o Dia Nacional do Doente com AVC, reconhecemos e celebramos todos os que sofreram um AVC, que viveram “aquele momento” que mudou as suas vidas. Também celebramos todas as famílias, amigos, colegas ou cuidadores que acompanham estes doentes, que se adaptam, ajustam sonhos e expectativas e constroem novas realidades. Celebramos, também, todos os profissionais que dedicam o seu trabalho a diagnosticar, tratar, cuidar, reabilitar e reintegrar os muitos sobreviventes de AVC numa realidade nova e muitas vezes adversa.
De facto, apesar de ser do conhecimento geral, confirmado e divulgado após múltiplas caracterizações e estatísticas da saúde em Portugal, que o AVC é a principal causa de morte no nosso país, sendo também responsável por elevado grau de incapacidade, com custos significativos (não só económicos) para a sociedade, há ainda um longo caminho para percorrer na abordagem desta patologia.
Face a esta realidade, é necessário assumirmos um compromisso com a prevenção primária, com o controlo de fatores de risco que, apesar de serem sobejamente conhecidos, continuam a não merecer uma intervenção verdadeiramente eficaz para o seu controlo, quer através da melhor resposta dos cuidados de saúde, mas também com um investimento na literacia para a saúde da nossa população.
Outra área fundamental é a do tratamento em fase aguda, sendo reconhecido o esforço para disseminar a implementação da Via Verde do AVC, que veio permitir uma resposta eficaz com acesso quer a terapêutica fibrinolÍtica endovenosa quer a tratamento endovascular. E se crescemos neste aspeto, com a organização da urgência metropolitana na área vascular cerebral, temos muito a melhorar no acesso célere a este tratamento, independentemente da localização geográfica.
Mas não só de fase aguda se faz o tratamento do doente com AVC: a importância da continuidade de cuidados, através das Unidades de AVC é atualmente consensual, tal como a perceção de que o trabalho multidisciplinar que estas unidades asseguram se traduz num melhor prognóstico vital e funcional para os doentes que delas beneficiam. E aqui, também, o reconhecimento de que o caminho não termina na alta hospitalar, prolongando-se no direito a um plano de reabilitação adequado e estruturado, não preenchido por múltiplos obstáculos e condicionantes burocráticas, a que os nossos sobreviventes de AVC são sujeitos.
Neste esforço, e inevitavelmente, uma palavra de reconhecimento à Medicina Interna, desde o seu papel na implementação da Via verde nos Serviços de Urgência e em coordenação com o pré-hospitalar, passando pela sua presença incontornável nas Unidades de AVC, até ao seu envolvimento não só na prevenção secundária, mas também na prevenção primária, em crescente colaboração com os cuidados de saúde primários.
Portugal foi um dos países signatários do Stroke Action Plan for Europe, elaborado em conjunto pela European Stroke Organisation (ESO) e pela Stroke Alliance for Europe (SAFE). Neste plano de ação é reconhecida a importância do investimento em todas estas fases de intervenção na abordagem desta patologia. O compromisso é ambicioso, mas é possível: reduzir o peso do AVC através da melhoria de toda esta cadeia de cuidados. São assim definidos objetivos, a implementar até 2023, com ações concretas e baseadas na evidência, dirigidas à prevenção e tratamento do AVC.
Assim, não nos esqueçamos que neste dia celebramos todos os dias de novas vidas que se reconstroem, passo a passo, com a ajuda de todos nós.
Autora: Teresa Mesquita, Coordenadora da Unidade de AVC Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca / NEDVC da SPMI