O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, começou por abordar aquilo que, no seu entendimento, são os grandes desafios da agricultura, e definiu como “primeiro desafio a capacidade de iniciativa”, para isso lembrou que “quem já trabalhou em silvicultura, ou em agricultura, sabe que para ser possível colher frutos de um trabalho é preciso saber semear e plantar antecipadamente”.
Os agricultores portugueses sempre tiveram “capacidade de iniciativa”, mas nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado, era “muitas vezes dispersa, muitas vezes solitária”, e só a partir daí os agricultores encontraram “uma iniciativa partilhada comunitariamente”.
Como segundo desafio, o Presidente definiu a “antecipação”, e explicou que “em toda a atividade económica como na atividade política a antecipação é fundamental”.
No caso da agricultura a antecipação “é cada vez mais importante”, uma antecipação “no conhecimento, no contato com as novas tecnologias, no aprofundamento científico, na formação dos que trabalham no setor”, mas também uma “antecipação nas tendências internacionais, na análise e na atuação sobre a economia portuguesa”.
“O terceiro desafio é o da estratégia”, prosseguiu o Presidente da República, e lembrou que “de pouco vale a iniciativa mesmo se partilhada e a capacidade de antecipação se não houver uma estratégia”.
A estratégia deve ser definida mas depois de uma correta avaliação das prioridades, por outro lado, deve ser sustentável. Assim, deve ser definida “uma estratégia a prazo, móvel, reajustável, porque vivemos num tempo de instabilidade”, mas ao mesmo tempo deve ser “uma estratégia com metas e com a definição dos caminhos necessários para atingir essas metas”.
“A ideia de sustentabilidade é indissociável de uma estratégia a médio e a longo prazo”, mas quando se fala em sustentabilidade, estamos a falar de “uma sustentabilidade empresarial, económica, mas também ambiental”, e ao mesmo tempo “é uma sustentabilidade territorial, por se tratar de gerir o território, é uma sustentabilidade social, porque a economia não vive no abstrato, vive em comunidades concretas de pessoas de carne e osso”.
Para além da própria estratégia de sustentabilidade é preciso resiliência. Uma resiliência que “todos os agricultores, silvicultores, quem trabalha na pecuária sabe que a resiliência é fundamental”, ou seja, “capacidade de resistir ao que é imprevisível, até ao que é previsível, mas que ocorre em termos diversos do que estava previsto, sem as vicissitudes politicas, económicas ou sociais”.
Depois de esclarecidos os três desafios que são colocados à agricultura, Marcelo Rebelo de Sousa, reforça a ideia de que os agricultores fazem parte de toda uma comunidade que envolve autarcas, estruturas educativas e de formação, pois afirmou: “não há agricultura estanque em relação à indústria, ao comércio, e outros domínios de criação de riqueza nacional”.
Ao longo do tempo foi sendo criado um fosso de desconhecimento entre as zonas urbanas e metropolitanas e as atividades da agricultura, mas para o Presidente há que restabelecer uma ponte entre o que designa por dois mundos, “é muito importante porque esse mundo (o urbano) tem um peso político comunicativo nacional e eleitoral decisivo e não pode ignorar a modificação profunda que ocorre na agricultura portuguesa. É uma menos valia haver milhões de portugueses que não sabem o que se está a passar na agricultura portuguesa”.
No dia em que foram conhecidos os números sobre as exportações referentes ao primeiro trimestre do ano, Marcelo Rebelo de Sousa, referiu que no “que diz respeito ao facto da agricultura portuguesa, no sentido amplo, estar ao mesmo tempo a promover a substituição das importações e a fomentar as exportações”.
“Refleti eu hoje sobre os números apresentados quanto às exportações do primeiro trimestre”, disse o Presidente, e acrescentou que as exportações “mostram um crescimento dentro do universo europeu no quadro da União Europeia, de 3,5%, mas uma quebra no mundo não europeu de 16,9%, o que se traduz, depois de tudo somado, numa quebra de cerca de 2% das exportações”.
Os números das exportações “sugerem” ao Presidente preocupações. Preocupação pela conjuntura de instabilidade mundial, “pelo panorama dos países produtores de petróleo e pela desaceleração das economias emergentes e, no caso de serem mercados de destino das nossas exportações, isto não é uma boa notícia”.
Mas, Marcelo Rebelo de Sousa, também deixou claro que não partilha do pessimismo dos “que dizem que isto é um sinal irreversível, inexorável, de um erro da orientação da política económica já visível ou da instabilidade vivida em Portugal”. Mas reforça a “evolução positiva que existe no quadro da União Europeia”, e atribui às quebras nas exportações, ao “panorama de três economias não europeias relativamente às quais há fatores políticos económicos e sociais de graus diferentes que condicionam as nossas exportações”.