No decurso dos últimos anos o acervo bibliográfico sobre o fenómeno migratório nacional tem sido profusamente enriquecido com o lançamento de um conjunto diversificado de estudos que ampliam o conhecimento sobre a história da emigração portuguesa.
Neste conjunto diversificado de trabalhos, destaca-se recentemente a investigação levada a cabo pelo historiador e professor universitário venezuelano, Froilán Ramos Rodriguez, sobre a emigração portuguesa, grande parte dela madeirense, para a cidade de Barquisimeto na Venezuela, e que está na base do livro “Travesía de la esperanza. La inmigración portuguesa en Barquisimeto (1948-1958)”.
Atualmente docente na Universidade Católica da Santíssima Conceição (UCSC), no Chile, Froilán Ramos Rodriguez, tendo como estudo de caso Barquisimeto, capital e cidade mais populosa do estado de Lara, onde existem dois relevantes clubes portugueses com raízes madeirenses, mormente o Centro Luso Larense e o Centro Atlântico da Madeira, revisita a história dos emigrantes portugueses na Venezuela.
Uma história analisada a partir da segunda metade do séc. XX, período em que os emigrantes portugueses na Venezuela, maioritariamente oriundos da Madeira, passaram a dedicar-se ao comércio de produtos alimentares, como padarias, pequenas mercearias, lugares de venda de sandes e sumos, e inclusivamente à pequena e média indústria, especialmente no setor das manufaturas. Contexto que firmou a comunidade portuguesa, que hoje será composta por aproximadamente meio milhão de luso-venezuelanos, num pilar estruturante do desenvolvimento urbano, económico e sociocultural da sociedade venezuelana.
Numa época em que a Venezuela vive uma situação complexa do ponto de vista económico, politico e social, que se agravou ainda mais devido à pandemia de coronavírus, a “viagem da esperança” de Froilán Ramos Rodriguez ao reconstruir a memória do passado da comunidade portuguesa na pátria de Simón Bolívar, representa também um sinal de coragem no presente e de esperança no futuro de uma comunidade, que nas palavras do investigador “se ha identificado por su laboriosidad, (…) su trabajo constante en su establecimiento, su silencio y reserva, su devoción por la Virgen de Fátima y su gusto por el fútbol”.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor