Um dos mais consagrados artistas plásticos portugueses da atualidade, Orlando Pompeu nasceu a 24 de maio de 1956, na freguesia de Cepães, no concelho minhoto de Fafe. Estudou desenho, pintura e escultura em Barcelona, Porto e Paris, e nos anos 90 progrediu no seu percurso artístico ao ir trabalhar para os Estados Unidos da América, onde expôs na Galeria Eight Four, em Nova Iorque, e depois, Japão, tendo exposto na TIAS – Tokio International Art Show e na Galeria Garou Monogatari em Tóquio.
Detentor de uma carreira de quase quarenta anos, bem como um currículo nacional e internacional ímpar, a sua obra consta de variadas coleções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Suíça, Inglaterra, Alemanha, Croácia, Austrália, Brasil, México, Dubai, Canadá, Itália, EUA e Japão.
Dentro do estilo pictórico singular, heterogéneo, criativo e contemporâneo que perpassam as diversas fases e dimensões temáticas da obra do artista plástico, encontram-se várias representações alusivas à emigração portuguesa.
Em 1989, o artista concebeu uma obra hiper-realista, acrílico sobre tela 130 x100, atualmente na posse de um colecionador particular, intitulada “Portugueses, Emigrantes e Heróis”, que constitui uma grandiosa alegoria da emigração lusa para França nas décadas de 1960-70. Nesse quadro de grandes dimensões, Orlando Pompeu, pinta numa estação de comboios, uma família carregada de malas e de sonhos na demanda de melhores condições de vida, impulso maior que levou mais de um milhão de portugueses a emigrar “a salto” para o território gaulês nesse período.
Uma emigração, nas palavras de Eduardo Lourenço, «de sangue, suor e lágrimas, mas que, ao fim e ao cabo, foi uma emigração com sentido e que deu sentido a tantas gerações, a tantas vidas e a tantos portugueses». Que até aos dias de hoje, representam uma das principais comunidades estrangeiras presentes no território gaulês, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, rondando um milhão de pessoas, e desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da França.
Já em 2018, no âmbito do programa das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas no Canadá, nação que alberga uma das mais dinâmicas comunidades lusas na América do Norte, a Peach Gallery, uma das mais vibrantes galerias de arte em Toronto, deu a conhecer à numerosa comunidade luso-canadiana uma exposição composta por 40 aguarelas sobre papel do reputado pintor.
Uma exposição cujas aguarelas foram pintadas com várias representações de símbolos identitários da cultura portuguesa, como a bandeira nacional e a guitarra, que muito contribuem para a construção e reforço da portugalidade. Assim como, com diversos elementos canadianos, como por exemplo, a CN Tower, um símbolo de Toronto, capital da província do Ontário e maior cidade do Canadá, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes neste território da América do Norte.
Em agosto de 2022, no âmbito da Festa do Emigrante promovida pelo Município de Fafe, uma iniciativa que congregou um conjunto diversificado de acontecimentos de cariz cultural, social e identitário que pretendeu homenagear os emigrantes locais, o artista plástico inaugurou uma exposição composta pelos desenhos concebidos propositadamente para a ilustração do livro “Crónicas – Comunidades, Emigração e Lusofonia”.
Os desenhos, que arrebataram no Salão Nobre do Teatro Cinema de Fafe, antigos e atuais emigrantes no Brasil, Canadá, França, Inglaterra e Suíça, na esteira da missão primordial do livro assinado pelo escritor e historiador da Diáspora, Daniel Bastos, dignificam, reconhecem e valorizam as sucessivas gerações de compatriotas que saíram de Portugal.
Refira-se ainda, que desde 2023, o Museu Histórico de São José, com uma forte componente dedicada à emigração portuguesa para a Califórnia, terceiro maior estado dos Estados Unidos, onde vive e trabalha a maior comunidade luso-americana do país, constituída por mais de 300 mil pessoas, possui no seu acervo uma aguarela do artista plástico alusiva aos fortes laços que unem as duas nações é a presença da diáspora.
Na esteira de grandes mestres da pintura portuguesa, que também verteram nos seus trabalhos representações da emigração portuguesa, como por exemplo, Domingos Rebelo, com o quadro “Os Emigrantes” (1929), ou Almada Negreiros, com o tríptico “A partida dos emigrantes” (1947-49). Orlando Pompeu sublima assim a máxima de Orhan Pamuk, escritor e professor turco vencedor do prémio Nobel de Literatura de 2006: “A pintura ensinou a literatura a descrever”. Neste caso traçando com a mestria dos pincéis e tintas uma constante estrutural da história portuguesa.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor