Na passada segunda-feira, comemorou-se o Dia Nacional do Canadá, um feriado simbólico que desde 1 de julho de 1867 assinala a independência deste território do Reino Unido, através da união de três colónias britânicas, a Província do Canadá, atual Ontário e Quebeque, e a Nova Brunswick e a Nova Escócia.
Estabelecida em grande parte da América do Norte, a sociedade canadiana destaca-se pela sua génese multiculturalista, intrinsecamente associada ao facto de possuir um dos maiores índices de desenvolvimento humano. Na base da mescla de grupos, idiomas e culturas étnicas que coexistem no Canadá, encontra-se o pioneirismo luso.
Embora a presença regular de portugueses no território canadiano fosse uma realidade desde o alvorecer do séc. XVI, foi somente nos primórdios dos anos 50 que se consubstanciaram as relações diplomáticas entre as duas nações. Intrinsecamente estabelecidas em 1953, ao abrigo de um Acordo Luso-Canadiano, visando suprir a necessidade de trabalhadores para o sector agrícola e para a construção de caminhos-de-ferro, e que levou a 13 de maio ao desembarque em Halifax, província de Nova Escócia, no navio Saturnia, dos primeiros emigrantes portugueses.
Se entre 1953 e 1973, terão entrado no Canadá mais de 90 mil portugueses, na sua maioria originários dos Açores, estima-se que atualmente vivam no segundo maior país do mundo em área total, mais de meio milhão de luso-canadianos, sobretudo concentrados em Ontário, Quebeque e Colúmbia Britânica, representando cerca de 2% do total da população canadiana que constitui um hino ao multiculturalismo.
Uma das mais relevantes comunidades lusas na América do Norte, que se destaca pela dinâmica da sua atividade associativa, económica e sociopolítica, a comunidade portuguesa no Canadá, ao longo dos anos, tem sabido com profundo simbolismo e sentimento de pertença, preservar e enaltecer a sua herança cultural. Exposta, por exemplo, paradigmaticamente nas marcantes atividades e eventos do 70.º aniversário da emigração portuguesa para o Canadá.
Dentro dos desafios e problemáticas futuras que a comunidade luso-canadiana enfrenta, destaca-se na esteira das sociedades ocidentais, o envelhecimento e as suas consequentes implicações ao nível das estruturas familiares, associativas e dos laços intergeracionais. Segundo o estudo sociológico, A emigração portuguesa no século XXI, a percentagem dos idosos entre os emigrantes aumentou no Canadá 11 pontos percentuais, passando de 17% para 28%, entre 2001 e 2011.
É neste entrecho, que ganha especial relevância o projeto que está a ser dinamizado no seio da comunidade portuguesa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá. Designadamente, a construção do Magellan Community Centre, orçado em vários milhões de dólares, capaz de acolher mais de duas centenas de seniores, especialmente direcionado para a comunidade lusa.
Este projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes portugueses na maior cidade canadiana, está a ser dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães). Uma organização sem fins lucrativos, em homenagem ao navegador português, que através da colaboração do poder político e da solidariedade da comunidade luso-canadiana, está a contruir um lar culturalmente específico que irá dispor de profissionais de saúde que falem português. E dinamizará atividades cultural e espiritualmente em ambiente cultural sensível, e promoverá programas sociais e recreativos em português e alimentação que incluirá pratos tradicionais.
Numa época de acelerado envelhecimento das populações ocidentais, a construção de uma “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana, demonstra, desde logo, que o espírito de solidariedade e entreajuda ainda é uma das principais marcas da diáspora, em particular, da comunidade portuguesa em Toronto.
Mas também que a melhor forma de honrar o passado, a herança cultural, é projetar o futuro valorizando e respeitando os mais velhos da comunidade luso-canadiana. Contribuindo para a sua melhoria da qualidade de vida, proporcionando um conjunto de serviços e atividades permanentes adequadas à satisfação das necessidades dos obreiros da comunidade.
É nesse sentido, que toda a comunidade portuguesa em Toronto, com o apoio necessário do poder político canadiano e português, cada um dentro das suas possibilidades, deve apoiar incondicionalmente esta obra emblemática e inspiradora da diáspora.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor