Uma equipa de antropólogas da Universidade de Coimbra (UC) e da Universidade de Évora descobriu esqueletos de três jovens do sexo masculino, do período medieval, com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos, que indicam a existência de punição judicial através da amputação das mãos e dos pés, perto da morte, ou seja, no momento perimortem.
As ossadas do período medieval foram encontradas pela antropóloga Teresa Fernandes da Universidade de Évora, durante as escavações efetuadas em 2001 na necrópole (cemitério) medieval do Rossio do Marquês de Pombal, em Estremoz, que é datada dos séculos XIII e XV.
De acordo com o estudo, já publicado no Journal of Paleopathology, e de que é primeira autora Teresa Fernandes, trata-se do primeiro caso no mundo de descoberta de três esqueletos com amputações de mãos e pés na mesma necrópole, outros estudos anteriores só relatam a descoberta de um corpo.
Eugénia Cunha, do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, envolvida no estudo, referiu, citada em comunicado da UC, que os resultados da investigação indicam que os homens “foram vítimas de punição judicial. As características dos cortes infligidos evidenciam que estes foram intencionais e terão sido aplicados como forma de castigo violento”.
As cientistas indicam no estudo que “os três cadáveres foram sepultados em túmulos localizados lado a lado, no canto sul do cemitério. As mãos e pés mutilados foram colocados sob ou perto dos corpos”.
Para a equipa de antropólogas “as fraturas sugerem que os pés foram cortados com um golpe forte. Estes e outros sinais permitem concluir que o procedimento bárbaro foi perpetrado com um instrumento afiado, como uma espada ou um machado”.
O estudo indica que a posição geoestratégica da região, representada pelo seu Castelo e Tribunal Real, sugerem a necessidade de práticas punitivas, e que outra justificação “encontra-se no facto de o desmembramento ser uma forma de punição realizada no período medieval como modo de denegrir o corpo, com um significado social de dissuadir a população a incorrer em atos desviantes que possuíssem tal castigo”.
Eugénia Cunha esclareceu que se trata do primeiro relato deste tipo de amputações perimortem em necrópoles portuguesas. A descoberta pode ajudar a interpretar “de forma holística as causas para aplicação de atos tão violentos. Com estes resultados é possível estabelecer relações e efetuar um enquadramento sociocultural e histórico que ajude a compreender a evolução das punições em Portugal”.