Os vírus da gripe como o coronavírus da COVID-19 podem espalhar-se pelo ar transportados pela poeira, fibras e outras partículas microscópicas, concluiu uma nova de acordo com uma nova investigação da Universidade da Califórnia, em Davis, e da Escola de Medicina Icahn, em Mont Sinai.
Os resultados da investigação que têm implicações sobre a transmissão dos vírus da gripe e do coronavírus da COVID-19 foram publicadas, dia 18 de agosto, na Nature Communications.
Repensar a investigação de surtos
“É realmente chocante para a maioria dos virologistas e epidemiologistas que a poeira transportada no ar, em vez de gotículas expiradas, possa transportar o vírus da gripe capaz de infetar animais”, referiu William Ristenpart do Departamento de Engenharia Química da Universidade da Califórnia, em Davis, que ajudou a conduzir o estudo.
O investigador acrescentou: “A suposição implícita é sempre que a transmissão aérea ocorre por causa de gotículas respiratórias emitidas pela tosse, espirro ou fala. A transmissão através da poeira abre novas áreas de investigação e tem implicações profundas em como interpretamos as experiências de laboratório, bem como investigações epidemiológicas de surtos.”
Fómites e doenças infeciosas
Os cientistas acreditam que o vírus da gripe espalha-se por várias e diferentes vias, incluindo em gotículas exaladas do trato respiratório ou em objetos secundários, como maçanetas ou tecidos usados. Estes objetos secundários capazes de absorver, reter e transportar organismos contagiantes ou infeciosos (de germes a parasitas), de um indivíduo a outro, são chamados fómites.
No entanto, os cientistas ainda sabem pouco sobre quais as rotas que são mais importantes na propagação dos vírus, mas consideram que a resposta pode ser diferente para diferentes estirpes do vírus influenza ou para outros vírus respiratórios, incluindo para o coronavírus SARS-CoV2.
No novo estudo, Sima Asadi e William Ristenpart de engenharia da Universidade da Califórnia, em Davis, trabalharam com virologistas liderados por Nicole Bouvier, em Mont Sinai, para verificar se pequenas partículas não respiratórias que designam “fómites em aerossol” podem transportar o vírus da gripe entre cobaias.
Propagação pela poeira
Usando um medidor de partículas automatizado para contar as partículas transportadas pelo ar, descobriram que porquinhos-da-índia não infetados emitem picos até 1.000 partículas por segundo à medida que se movem ao redor da gaiola. As partículas desprendidas pela respiração dos animais estavam numa taxa constante, muito mais baixa.
Porquinhos-da-índia imunes ao vírus da gripe existente na pele podiam transmitir o vírus pelo ar para outras cobaias suscetíveis ao gripe, mostrando, assim, que o vírus não precisa de vir diretamente do trato respiratório para ser infecioso.
Os investigadores verificaram se as fibras microscópicas de um objeto inanimado podem transportar vírus infeciosos. Na experiência os investigadores colocaram nos lenços faciais de papel vírus da gripe, deixaram-nos secar e apertaram-nos na frente de um medidor automático de partículas. Este amassar dos tecidos liberou até 900 partículas por segundo numa faixa de tamanho que pode ser inalada. Os investigadores também verificaram que as partículas liberadas dos tecidos de papel contaminados com vírus foram capazes de infetar células.