Estudo de investigação da Universidade de Aveiro, coordenado pela investigadora Sandra Rafael, dá pela primeira vez resposta a questões sobre a introdução de veículos autónomos.
Se o advento dos veículos autónomos promete melhorar a segurança rodoviária, que consequências terá para a qualidade do ar nas cidades? A alteração do comportamento dos veículos vai trazer uma redução da poluição? A estas duas questões o estudo conclui que os veículos autónomos vão trazer para as cidades um ar menos poluído e, por isso, mais saudável.
O aumento da segurança rodoviária é a grande vantagem da tecnologia autónoma nos meios de transporte urbanos. No entanto, há um conjunto de benefícios de âmbito ambiental que têm sido pouco explorados e que se relacionam com a forma como o comportamento do condutor, através do processo de aceleração/desaceleração e travagem, influência o consumo de combustível, as emissões atmosféricas e, em última instância, a qualidade do ar.
A investigadora Sandra Rafael utilizou modelos de computação em dinâmica de fluidos para prever e conjugar vários cenários (número de veículos elétricos e não elétricos autónomos em circulação, morfologias urbanas, etc.). Os modelos usados deram “respostas muito promissoras para a qualidade do ar nas cidades percorridas pelos veículos do futuro”.
Os resultados do estudo já publicados na revista Science of The Total Environment revelaram que com uma taxa de integração de veículos autónomos de 30% leva a uma redução total de 4% das emissões de óxidos de nitrogênio, os gases nocivos à saúde produzidos por veículos com motor de combustão.
Destes gases, só em dióxido de azoto, um dos mais perigosos para o ambiente, o estudo revela uma redução de 2%. O mesmo estudo demonstrou que estas reduções serão tanto maiores quanto maior for a taxa de integração dos veículos autónomos das estradas das cidades, chegando a reduções máximas de 7,6%.
A equipa de Sandra Rafael procedeu a uma análise semelhante mas considerando que a percentagem de veículos autónomos eram ao mesmo tempo veículos elétricos. Os resultados revelam, neste caso, uma capacidade significativa de melhoria da qualidade do ar com uma redução média das concentrações de dióxido de azoto em 4%.
Resultados muito promissores
A investigadora Sandra Rafael esclareceu que os dados, “ainda que modestos, são relevantes no contexto de poluição atmosférica em que vivemos”. A estratégia europeia para a redução das emissões tem conduzido a uma melhoria generalizada da qualidade do ar em toda a Europa, mas a cientista do Centro de Estudos do Ambiente e do Mara (CESAM) da UA, lembrou que “a concentração de alguns poluentes atmosféricos, como é o caso do material particulado e do dióxido de azoto, permanecem demasiado elevados em grande parte das cidades europeias”.
O atual sistema de mobilidade urbana é com 35% o principal responsável pelas emissões de óxidos de azoto. “Torna-se por isso essencial desenvolver tecnologias que permitam de forma eficiente e sistemática reduzir as emissões associadas a este sector”, referiu Sandra Rafael.
O estudo envolveu os investigadores do CESAM, Sandra Rafael, Luís Correia, Diogo Lopes, Carlos Borrego e Ana Isabel Miranda, e os investigadores do Centro de Tecnologia Mecânica e Automação, também da UA, Jorge Bandeira, Margarida Coelho e Mário Andrade, o estudo foi desenvolvido no âmbito de um projeto mais abrangente, o InFLOWence.
O projeto coordenado pelo Departamento de Engenharia Mecânica tem a participação de investigadores do Departamento de Ambiente e Ordenamento, ambos da UA, o InFLOWence tem como objetivo perceber e otimizar a influência de veículos conectados e autónomos na eficiência ambiental de fluxos de tráfego rodoviário.