Uma equipa de investigadores da Universidade de Copenhaga tem vindo a trabalhar, ao longo de vários anos, no desenvolvimento de uma vacina que possa proteger as mulheres grávidas da malária. Uma doença que mata 220 mil pessoas todos os anos.
Agora, os investigadores deram um passo significativo para conseguir introduzir a vacina no mercado. Num novo estudo publicado na revista científica ‘Clinical Infectious Diseases’, a vacina foi submetida ao chamado teste clínico de fase um, e os resultados são otimistas: a vacina é segura e passou no teste induzindo a resposta correta de anticorpos no sangue.
‘É um grande marco para podermos mostrar que nossa vacina é completamente segura e induz a resposta exata de anticorpos que queremos no sangue. Porque é a resposta imune que se mostrou adequada à proteção contra a malária na gravidez. O próximo passo é documentar que previne a malária na gravidez em mulheres africanas”, referiu Morten Agertoug Nielsen, do Departamento de Imunologia e Microbiologia e principal autor do estudo.
Primeiro a segurança
Os investigadores aplicaram o método normal para testar as novas vacinas, fazendo um estudo randomizado, duplo-cego. Ou seja, os participantes no teste receberam aleatoriamente a vacina ou o placebo, e nem os participantes nem os investigadores, que realizaram o estudo, sabiam quem tinha recebido a vacina ou o placebo.
O efeito da vacina foi examinado entre 36 mulheres e homens alemães que se ofereceram para o teste. Depois de injetar a vacina, os investigadores foram capazes de detetar a resposta imunológica correta com anticorpos contra o parasita da malária no sangue, e os indivíduos não mostraram efeitos colaterais graves.
Os participantes nos testes alemães são descritos como “malária ingénua”, porque não estão e não serão expostos ao parasita da malária e, portanto, nunca vão desenvolver a malária da gravidez. No entanto, foram utilizados como sujeitos de teste para documentar que a vacina é segura o que parece funcionar, antes de ser introduzida num grupo de mulheres africanas vulneráveis e em risco de desenvolver malária na gravidez.
“Vamos fazer mais testes, porque queremos levar a vacina o mais longe possível. Estamos, portanto, a cooperar com hospitais em Benin, em África, onde podemos realizar estudos em mulheres em risco de desenvolver a doença. Esperamos poder publicar os resultados destes estudos no próximo ano”, referiu Ali Salanti do Departamento de Imunologia e Microbiologia, e coautor do estudo.
Cooperação garante medicina para pessoas necessitadas
Os trabalhos dos investigadores para o desenvolvimento de uma vacina contra a malária começou com a descoberta por Ali Salanti de proteína na placenta de mulheres grávidas em que oparasita da malária pode-se ligar. Posteriormente, Ali Salanti e sua equipa de investigação têm vindo a tentar utilizar esse conhecimento para produzir uma vacina real contra a doença que é fatal.
“O nosso desenvolvimento e a produção da vacina só foi possível devido às colaborações público-privadas. É um forte exemplo de como tal constelação pode tornar possível o desenvolvimento de medicamentos para pessoas necessitadas, incluindo pessoas com poucos recursos”, referiu Ali Salanti.
Nas Universidades não é comum ver os investigadores levarem a sua descoberta para um produto final e muito menos a ensaios clínicos, pois os ensaios clínicos podem demorados, extensos e caros e, portanto, a indústria farmacêutica é tipicamente a única a desenvolver e a testar estes medicamentos antes de os introduzir no mercado. Mas, neste caso, os investigadores conseguiram fazê-lo sozinhos.
“O próximo passo no processo é um ensaio clínico de fase dois, que mostrará se a vacina ainda é segura, mas também se pode prevenir a doença. Simultaneamente, vamos desenvolver um método para transformar a vacina numa partícula semelhante a vírus. Isso aumenta a resposta do anticorpo. Mas o cerne da questão é se é suficiente para atacar todas as formas diferentes da ligação da proteína ao parasita da malária”, referiu Morten Agertoug Nielsen.