As metaloproteinases de matriz (MMPs) são produzidas naturalmente por animais para uma ampla gama de processos biológicos, como reparação de feridas e crescimento e desenvolvimento de tecidos. Muitas doenças, no entanto, podem sequestrar essas enzimas para seus próprios fins.
Um aumento na produção de MMPs tem sido fortemente ligado ao crescimento e a metástase de tumores. Muitos medicamentos foram criadas para inibir a produção de MMPs, mas em estudos clínicos não têm vindo a mostrar sucesso para retardar a progressão do cancro.
Num novo estudo, engenheiros biomédicos da Duke University mostram que esses medicamentos podem ser mais úteis no tratamento da tuberculose. Os resultados mostram que vários inibidores de MMP, incluindo o fármaco Marimastat, melhoram a integridade estrutural dos vasos sanguíneos com roturas em granulomas de tuberculose, permitindo que os antibióticos penetrem e ataquem os bacilos da tuberculose
O estudo foi realizado em ratos com grande sucesso, e já foi publicado, em 26 de abril, na versão online da revista PLOS Pathogens.
“Os cientistas têm-se concentrado nos antibióticos usados contra a tuberculose há muito tempo”, referiu Xiling Shen, professor associado de engenharia biomédica da Duke University, e acrescentou: “Pensamos que talvez fosse a hora de assumir um novo ângulo, visando a resposta do hospedeiro à doença.”
A Organização Mundial da Saúde estima que mais de um quarto da população mundial está atualmente infetada com tuberculose. Embora apenas 5% a 10% se tornem sintomáticos e infeciosos.
A doença mata mais de 1,25 milhões de pessoas todos os anos, tornando-se uma das doenças infeciosas mais letais do mundo. A infeção por tuberculose é também a principal causa de mortes de pacientes com HIV/SIDA.
Quando o Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch entra nos pulmões, o sistema imunológico tenta conter a colónia bacteriana formando uma lesão em torno do bacilo, chamada granuloma. Infelizmente, as bactérias adaptaram-se e tornam essas ‘prisões’ mais parecidas com ‘casas’.
“A tuberculose é um dos patógenos mais antigos da humanidade e foi encontrada em antigas múmias egípcias”, referiu Xiling Shen. A bactéria “desenvolveu uma estratégia muito inteligente para sobreviver. Enquanto os granulomas são destinados a conter e destruir a tuberculose, as bactérias regulam as MMPs para remodelar o interior do granuloma, essencialmente renovando as novas ‘casas’ para obter proteção contra o sistema imunológico e os antibióticos.”
O Mycobacterium tuberculosis pode ficar dormente dentro desses granulomas por décadas até que algo o desencadeie a tornar-se ativo. Quando isso acontece, a doença volta a ser contagiosa e mata cerca de 15% dos que chegam a esse estágio. Embora os cientistas não saibam exatamente por que, ou como isso acontece, as doenças que afetam o sistema imunológico, como o HIV, são muitas vezes a causa principal.
Devido à proteção dos granulomas, a tuberculose é extremamente difícil de eliminar, mesmo no estágio ativo, exigindo um regime de seis a nove meses de antibióticos, é por isso que muitas pessoas lutam para manter o tratamento por um largo período de tempo, mesmo depois dos sintomas quase desaparecerem.
Mas estão a surgir variantes de tuberculose resistentes aos antibióticos, é por isso que é tão importante que os cientistas encontrem maneiras mais rápidas de curar a doença.
O especialista em cancro, Xiling Shen, percebeu que a forma como a tuberculose manipula o granuloma é muito semelhante à forma como os tumores crescem e se metastatizam. E partiu de que os inibidores de MMP fortalecem a vasculatura nos tumores para melhorar a administração de medicamentos para o cancro, para analisar a situação nos granulomas da tuberculose.
Xiling Shen e David Russell, da Cornell University, especialista em tuberculose, mostrou que vários inibidores de MMPs aumentam a eficácia dos medicamentos antituberculose. Testes em ratos demonstraram que melhora a saúde dos vasos sanguíneos nos granulomas, permitindo que mais antibióticos sejam entregues e retidos nos pulmões.
Xiling Shen pretende avançar com testes em primatas e a seguir em estudos clínicos em humanos.