A trombectomia endovascular permite, já há alguns anos, remover oclusões vasculares maiores. O trombo é retirado do vaso cerebral com um cateter inserido através da virilha. Uma intervenção médica endovascular que numerosos estudos internacionais têm demostrado tratar-se de um avanço significativo em comparação com a terapêutica medicamentosa.
O método é indicado especialmente para coágulos sanguíneos muito grandes e grandes oclusões da artéria cerebral, e tem tido bons, dado que mais de 60% dos doentes tratados por trombectomia endovascular sobreviveu ao AVC, com pouca ou nenhuma incapacidade posterior.
“Cada vez mais estudos comprovam a elevada eficácia da remoção mecânica de coágulos sanguíneos após um AVC. Mas os investigadores ainda estão a analisar para quem este procedimento relativamente novo é a melhor opção de tratamento”, afirmou Ary Lopes de Sousa, neurologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central.
O especialista Ary Lopes de Sousa e os seus colegas estudaram o sucesso de uma trombectomia em mais de 200 doentes que sofreram um AVC isquémico agudo, mas em que as atividades diárias não foram afetadas ou o foram apenas ligeiramente. Os doentes foram divididos em dois grupos idades: um com pessoas com menos de 80 anos e outro com mais de 80 anos.
Um terço dos doentes com mais de 80 anos ficou independente após uma trombectomia.
No grupo de doentes idosos com 80 ou mais anos registaram hipertensão arterial mais frequente e houve mais ataques isquémicos transitórios, um distúrbio circulatório do cérebro que resulta em défices neurológicos a curto prazo.
Não se verificaram diferenças entre os dois grupos no tratamento, nomeadamente no que diz respeito ao intervalo de tempo até ao restabelecimento do fluxo sanguíneo do vaso com oclusão (revascularização).
No entanto, dois terços dos doentes no grupo mais de 80 ou mais anos apresentaram um mau resultado funcional três meses após o tratamento, o que significa que a sua vida no dia-a-dia ficou afetada em alguns casos de forma moderada e noutros até mais significativa. No grupo de mais idade verificou-se um número maior de incapacidades do que no grupo mais jovem. No grupo com menos de 80 anos, 46% ficou com restrições na sua vida diária.
Um terço dos doentes com idade superior a 80 anos conseguiu fazer novamente a sua vida diária com pouco ou nenhum impacto do AVC, três meses após o tratamento. No que diz respeito à frequência de mortes, não houve diferença entre os grupos etários.
O estudo permitiu concluir que “a trombectomia parece ser mais arriscada para as pessoas idosas, com mais de 80 anos, do que para os doentes mais jovens. Contudo, se o procedimento ajudar um terço dos doentes com mais de 80 anos a ter uma vida sem incapacidades, devemos identificar os fatores que favorecem este resultado positivo. Pois assim podemos propor este procedimento moderno especificamente para os idosos que podem beneficiar dele”, concluiu o neurologista Ary Lopes de Sousa.