Variedades de trigo provenientes de melhoramento genético possuem cerca de sete vezes menos toxidade para os doentes celíacos do que outras variedades da mesma espécie. A conclusão é de um estudo de investigação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
O estudo desenvolvido pelo investigador José Miguel Ribeiro, e que consta da sua tese de doutoramento, teve a participação de um grupo de investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), da Universidad Politécnica de Madrid (UPM) e do Institut National de la Recherche Agronomique (INRA).
José Miguel Ribeiro refere, citado pela UTAD, que “os resultados da investigação indicam que, para além do potencial genético”, o melhoramento de variedades de trigo com ‘melhores índices de qualidade’, “não contribuem para o aumento da toxicidade destas variedades”.
Os resultados da investigação da UTAD vêm contrariar uma das hipóteses sobre as causas do aumento da prevalência da doença celíaca na população humana, que tem vindo a ser atribuída ao melhoramento das variedades de trigo. Dado que a doença atinge praticamente 1% das populações em todas as sociedades ocidentais.
A doença celíaca é uma doença autoimune, em que o sistema imunológico passa a produzir anticorpos contra componentes do nosso próprio organismo. Este caso ocorre em indivíduos com predisposição genética causada pela permanente sensibilidade ao glúten, ou seja, um conjunto das proteínas insolúveis existentes nos cereais.
Quando um individuo ingere um produto que contenha glúten, mesmo que este esteja em pequenas quantidades, o organismo desenvolve uma reação imunológica contra o intestino delgado do individuo, provocando lesões na sua mucosa.
A doença celíaca não tem cura pelo que o individuo com a doença está, durante toda a vida, sujeito a uma dieta sem glúten.
Em face dos resultados do estudo, Gilberto Igrejas, docente da UTAD e investigador da UCIBIO-REQUIMTE, referiu que as variedades de trigo provenientes de melhoramento “podem não ter contribuído para a prevalência da doença celíaca, nos últimos 50 anos”.
Em face dos baixos níveis de glúten encontrados no ’trigo melhorado’ a equipa de investigação desenvolveu uma nova tecnologia de destoxificação do glúten, com vista à obtenção de produtos baseados no trigo que sejam hipoalergénicos para serem consumidos por doentes celíacos. Não são envolvidas as variedades OGM (organismos geneticamente modificados).
Os investigadores recorreram “à quitosana, um ingrediente natural com características biocompatíveis e biodegradáveis, para desenvolver uma tecnologia com capacidade para reduzir a carga tóxica do glúten para os celíacos, sem prejuízo para a funcionalidade tecnológica dos produtos, permitindo a continuidade de transformação em pão, bolos, massas, pizzas, entre outros produtos alimentares”. Um pedido de patente foi submetido para a tecnologia que poderá “abrir caminho ao desenvolvimento de produtos baseados no trigo e potencialmente hipoalergénicos para doentes celíacos”.