O transplante de células estaminais está a ser usado em pessoas com doença de Crohn para desenvolverem um novo sistema imunológico. A doença de Crohn, que atualmente não tem cura, é uma doença intestinal dolorosa e crónica que afeta vários milhares de pessoas por país, tendo uma alta incidência nos países do centro da Europa.
O estudo, desenvolvido no Reino Unido, é liderado pela Queen Mary University of London e pelo Barts Health NHS Trust, e financiado com 2 milhões de libras por uma parceria do Conselho de investigação Médica e o Instituto Nacional de investigação em Saúde, do Reino Unido.
O estudo recruta os pacientes nos centros de saúde em Cambridge, Edimburgo, Liverpool, Londres, Nottingham, Oxford e Sheffield. O ensaio clinico é coordenado através da Unidade de Ensaios Clínicos da Universidade de Sheffield.
A doença de Crohn é uma condição crónica que causa inflamação do revestimento do sistema digestivo, resultando em diarreia, dor abdominal, cansaço extremo e outros sintomas que afetam significativamente a qualidade de vida dos doentes.
Os atuais tratamentos incluem medicamentos para reduzir a inflamação, mas com resultados variados, sendo muitas vezes necessário recorrer à cirurgia para remover a parte afetada do intestino. Em casos extremos, depois de múltiplas operações ao longo dos anos, os pacientes podem precisar de uma operação final para desviar o intestino do ânus para uma abertura no estômago, chamada estoma, por onde as fezes são recolhidas para uma bolsa.
James Lindsay, investigador chefe, na Queen Mary University of London, e consultor da Barts Health NHS Trust, referiu: “Apesar da introdução de novos medicamentos, ainda há muitos pacientes que não respondem ou perdem gradualmente a resposta a todos os tratamentos disponíveis. Embora a cirurgia, com a formação de um estoma, possa ser uma opção que permita ao paciente voltar às atividades diárias normais, mas não é adequado em alguns doentes e outros doentes podem não querer considerar essa abordagem.”
O investigador acrescentou: “Esperamos que, ao reinicializar completamente o sistema imunológico do paciente, através de um transplante de células estaminais, possamos alterar radicalmente o curso da doença. Embora possa não ser uma cura, pode permitir que alguns pacientes finalmente respondam aos medicamentos”.
Helen Bartlett, uma paciente com doença de Crohn que fez terapia com células estaminais no Hospital John Radcliffe, em Oxford, referiu: “Viver com Crohn é uma luta diária. A pessoa vai à casa de banho com tanta frequência que sangra muito e é incrivelmente cansativo. A pessoa também precisa sempre de ter cuidado sobre onde vai. Eu tive que sair do comboio antes do meu destino final porque não possuía um WC”.
A paciente acrescentou: “Eu estou dentro e fora do hospital há vinte anos, operação após operação, medicamento após medicamento, para tentar vencer a doença. É frustrante, é deprimente e a pessoa sente-se tão em baixo.”
“Quando me ofereci para o transplante de células estaminais, foi um completo acéfalo já que não queria passar por mais operações falhadas. Não consigo descrever o quanto me sinto melhor desde o tratamento. Ainda tenho problemas e vou ter sempre problemas, mas não estou nessa dor constante”, concluiu Helen Bartlett.
O uso de transplantes de células estaminais para eliminar e substituir o sistema imunológico dos pacientes foi recentemente descoberto e considerado bem-sucedido no tratamento da esclerose múltipla. Este novo estudo vai investigar se um tratamento semelhante poderá reduzir a inflamação intestinal e oferecer esperança às pessoas com doença de Crohn.
No estudo, os pacientes são submetidos a quimioterapia e tratamento hormonal para mobilizar suas células estaminais, que são então colhidas do sangue. A quimioterapia é usada para acabar com o sistema imunológico defeituoso. Quando as células estaminais são reintroduzidas no corpo, elas desenvolvem-se em novas células do sistema imunológico, que dão ao paciente um novo sistema imunológico.
Os cientistas consideram que o novo sistema imunológico não vai reagir no intestino do próprio paciente causando inflamação, e também não vai atuar sobre compostos de fármacos removendo-os do intestino antes destes terem a possibilidade de trabalhar.
Tom Walley, diretor dos programas de Avaliação, Ensaios e Estudos do NIHR, referiu: “As terapias com células estaminais são uma área importante e ativa de investigação com grande potencial. Há descobertas preliminares que mostram que as células estaminais desempenham um papel fundamental na substituição do tecido danificado. Na doença de Crohn, essa abordagem pode oferecer benefícios reais no tratamento clínico e para a saúde, a longo prazo, dos pacientes”.
O ensaio clínico atual, designado por ‘ASTIClite‘, é uma continuação do teste ‘ASTIC’ de 2015, que investigou uma terapia similar com células estaminais. Embora a terapia no estudo original não tenha curado a doença, a equipa descobriu que muitos pacientes viam benefícios com o tratamento, justificando um ensaio clínico adicional. Houve também alguns efeitos colaterais graves das doses dos fármacos usadas, pelo que este estudo usa uma dose mais baixa para minimizar o nível de toxidade.
O ensaio clinico envolve académicos da Universidade de Manchester, da Universidade de Nottingham, da Universidade de Sheffield, da Universidade Nottingham Trent, da Universidade de Edimburgo, da Universidade de Oxford, do King’s College London e da Queen Mary University of London.