O distanciamento social é considerada a medida mais importante no combate à propagação do novo coronavírus. Mas alguns edifícios de serviços, como hospitais e supermercados, têm de continuar abertos e, dentro de algum tempo, a maioria das pessoas tem de regressar ao trabalho nas empresas.
Em face da situação é importante analisar qual é o papel do desenho de construção na transmissão de doenças, e se podemos mudar a maneira como projetamos os edifícios para os tornar mais saudáveis.
Um estudo de revisão publicado recentemente na revista mSystems, o cientista David Coil e Jonathan Eisen, professor no Centro de Genoma da UC Davis e na Escola de Medicina, bem como colegas do Centro de Biologia e Ambiente Construído da Universidade de Oregon, aborda o tema e faz sugestões.
Uma das sugestões mais simples para tornar os edifícios de habitação mais saudáveis é abrir janelas para melhorar a circulação de ar e abrir as persianas para permitir a entrada de luz natural.
Efeito da Luz solar no ambiente interior
E enquanto não são feitos mais estudos sobre o efeito da luz solar no SARS-CoV-2 verifica-se que a luz do dia existe como um recurso gratuito e amplamente disponível para ser integrado na construção de edifícios e que apresenta poucas desvantagens em comparação com os muitos benefícios positivos já documentados para a saúde humana, escreverem os cientistas no artigo.
Passamos quase toda a nossa vida em ambientes construídos pelo homem, sejam casas de habitação, veículos ou edifícios de empresas. Os atuais ambientes construídos oferecem muitas oportunidades para as pessoas entrarem em contato com vírus e bactérias – através do fluxo de ar, das superfícies e também da maneira como os edifícios nos fazem interagir uns com os outros.
Até agora, a via de transmissão do SARS-CoV-2, já documentada, é a direta de pessoa para pessoa. Mas os vírus também se instalam em superfícies, que podem tornar-se um meio de forte e rápida contaminação. O tempo em que SARS-CoV-2 sobrevive em superfícies ainda continua a ser estudado, mas as estimativas variam de algumas horas a alguns dias, dependendo do material e das condições, pelo que a limpeza regular de superfícies e a lavagem cuidadosa das mãos são importantes.
Fluxo de ar e humidade nos espaços interiores
As partículas virais são demasiado pequenas para serem bloqueadas pelos filtros de ar. No entanto, as estratégias de ventilação podem desempenhar um papel na redução da transmissão de doenças, referem os investigadores.
Aumentar a quantidade de entrada de ar e a taxa de troca de ar pode diluir as partículas do vírus em ambientes fechados. Isso pode incluir “ventilação de perímetro” – abrir uma janela, quando a temperatura externa o permite. No entanto, o alto fluxo de ar também pode agitar partículas que estão assentes nas superfícies e colocá-las no ar – para além de um maior consumo de energia.
As gotículas portadoras de vírus aumentam no ar húmido, o que significa que se instalam mais rapidamente e não viajam tão longe. A humidade também parece interferir no envelope lipídico em torno de vírus como o SARS-CoV-2. Muita humidade, no entanto, pode promover o crescimento de fungos.
Implicações dos grandes espaços
Os edifícios modernos são geralmente projetados para promover a mistura social – de áreas de estar de plano aberto em residências e escritórios, onde muitos trabalhadores dividem o espaço. Esses espaços ao promoverem a interação e os encontros casuais acredita-se que geram mais criatividade e trabalho em equipa. Ao mesmo tempo, provavelmente também são ótimos para espalhar os vírus.
Pode não ser prático de imediato proceder a grandes alterações no desenho do escritório. Mas entender como o desenho do escritório e as maneiras como as pessoas usam esses espaços compartilhados afetam a transmissão de doenças, pode ajudar no desenvolvimento de medidas eficazes de distanciamento social e na tomada de decisões sobre quando as pessoas podem voltar ao trabalho.