Os ataques cibernéticos aos dispositivos de comunicação, que ocorreram sobretudo nos dias 17 e 18 de setembro de 2024, no Líbano, que transformaram pagers e walkie-talkies em “armas mortais” colocam diversas questões, e mostram, neste caso, um nível elevado de engenharia, planeamento e um domínio sobre a cadeia de componentes para os dispositivos de comunicação.
Anurag Srivastava, especialista em engenharia eletrotécnica da Universidade da Virgínia Ocidental (UVO), EUA, aponta questões sobre o feito que a guerra cibernética moderna poderá ter, tanto mais que alguns intervenientes menos confiáveis geralmente “usam itens como pagers e walkie-talkies em vez de telemóveis para escapar de vigilância eletrónica sofisticada”.
Mas o especialista da UVO refere que dispositivos como pagers e walkie-talkies “podem ser modificados para incluir detonadores e cargas explosivas por meio da exploração de certos pontos dentro da cadeia de suprimentos, tornando-os ferramentas mortais quando acionados remotamente.”
“O processo de sabotagem começa com a modificação física do pager ou do walkie-talkie. Esses dispositivos já contêm todos os componentes essenciais para um dispositivo explosivo: uma fonte de energia – a bateria – o invólucro do dispositivo e um mecanismo de disparo – o circuito de comunicação. A adição de um detonador e carga explosiva converte-os em bombas controladas remotamente. Um microcontrolador é normalmente incorporado ao dispositivo para interagir com o circuito, permitindo que detone em resposta a sinais externos”, descreve Anurag Srivastava.
“O mecanismo de disparo destes dispositivos depende principalmente de sinais de radiofrequência, já que tanto pagers como os walkie-talkies operam em bandas de radiofrequência. No caso de pagers, um sinal de radiofrequência exclusivo pode ser transmitido pela rede de paging. O pager modificado, programado para ouvir esse sinal específico, ativa o detonador quando a frequência e o padrão de sinal corretos são detetados”.
Também para o caso do walkie-talkie este dispositivo “pode ser ajustado para um canal e frequência predeterminado. Quando o sinal de radiofrequência correspondente é recebido, o microcontrolador fecha o circuito, disparando a explosão”.
E para garantir que a ativação se dá de forma precisa, “o microcontrolador pode ser programado para reconhecer uma sequência única de tons ou modulações de sinal, minimizando o risco de detonação acidental. Esta configuração requer pré-programação cuidadosa e talvez teste de sinal, frequentemente envolve sequências de criptografia ou autenticação para evitar disparos não intencionais.”
O especialista em engenharia lembrou que “a combinação de sinais de radiofrequência com um microcontrolador incorporado permite ativação remota”, mas refere que “é preciso um alto nível de conhecimento técnico para modificar essas ferramentas de comunicação de baixa tecnologia em sofisticadas armas controladas remotamente.”