Tiago Rodrigues acaba de vencer o Prémio Europa de Teatro – Novas Realidades Teatrais. Tiago Rodrigues tem vindo ao longo dos anos a desenvolver um trabalho de releitura de obras consideradas de referências, sejam: romances, como Bovary, de 2014, a partir do processo judicial a que foi sujeito Gustave Flaubert pela escrita do romance, ou ‘Como ela morre’, de 2017, a partir de Anna Karenina, de Tolstoi, ou clássicos teatrais, como Eurípedes, Ésquilo e Sófocles, a saber Ifigénia, Agamemnon e Electra, de 2015, ou António e Cleopatra, de 2014, de Shakespeare. Em todos habita um desejo de aproximação dramatúrgica à realidade, moldando-a de tal modo que torna possível, no tempo do espetáculo, acreditar numa mudança.
O júri do prémio sublinhou “a singularidade de uma escrita atenta à importância de resgatar o teatro da sua efemeridade, devolvendo à condição de motor de uma intervenção política no sentido mais nobre do termo”, e acrescentou: “A sua escrita sublinha o desejo de convocar uma comunidade para um espaço reconhecível e, por isso, transversal porque capaz de acolher diferentes sensibilidades, memórias e vontades.”
O comunicado do Ministério da Cultura (MC) lembra que “ao mesmo tempo, espetáculos como ‘Três dedos abaixo do joelho’, de 2012, By Heart, de 2013 ou Sopro de 2017, onde é mais evidente um compromisso com a memória e, em particular a memória teatral, dão conta de um desejo de pensar a palavra como motor de uma ação sobre o presente, evocando histórias e responsabilidades dos que nos precederam e, por isso, devemos homenagem.”
“O teatro de Tiago Rodrigues é, desse modo, exemplo de uma pesquisa intensa sobre uma arte antiga face a uma contemporaneidade que nos sujeita a regras nem sempre claras no modo de viver em comum”, refere o comunicado do MC.
O MC lembra ainda que “ao longo dos anos, na sua companhia Mundo Perfeito ou nos projetos que foi desenvolvendo – fosse com alunos de diferentes escolas (PARTS, Manufacture, École des Maîtres, entre outros) ou na relação com a dança, através da Companhia Nacional de Bailado (A perna esquerda de Tchaikovsky, 2015), ou o cinema, na adaptação de um texto seu pelo realizador Tiago Guedes (Coro de Amantes, 2014) – Tiago Rodrigues procurou entender de que modo o cruzamento entre realidade e ficção pode ser aplicado à ténue fronteira existente entre a realidade daqueles que interpretam as ficções.”
Esta é a segunda vez que o teatro português é distinguido pelo Prémio Europa de Teatro – Novas Realidades Teatrais. Em 2010 o Teatro Meridional foi distinguido pela sua “política de reportório que alia níveis artísticos elevados à abertura a novos textos literários”.
O Prémio Europa Teatro – Novas Realidades Teatrais é atribuído desde 1990 e será entregue a Tiago Rodrigues em São Petersburgo em Novembro. Em 2017 foi entregue a encenadores, coreógrafos e dramaturgos tão distintos como Katie Mitchell, Thomas Ostermeier, Pippo Delbono, Rodrigo Garcia, Yael Ronen, Christoph Marthaler, Krzystof Warlikowski, Sasha Waltz e Anatoli Vassiliev.