Testar metade da população semanalmente com testes COVID-19 baratos e rápidos pode eliminar o coronavírus em semanas – mesmo que os testes sejam significativamente menos sensíveis do que os testes moleculares RT-PCR, concluiu um novo estudo da Universidade do Colorado, Boulder, e da Universidade de Harvard.
Um estratégia de testes massivos e frequentes levaria a “pedidos personalizados para ficar em casa” sem fechar restaurantes, bares, lojas de varejo e escolas, disseram os autores.
“A nossa descoberta é que, quando se trata de saúde pública, é melhor ter um teste menos sensível com resultados imediatos do que um mais sensível com resultados no dia seguinte”, referiu o investigador Daniel Larremore, autor principal do estudo já publicado na revista Science Advances.
Assim, “em vez de se dizer a todos para ficarem em casa para ter a certeza de que uma pessoa doente não espalhe a doença, poder-se-ia impor que fiquem em casa apenas as pessoas contagiosas, para que todos possam cuidar das suas vidas”, acrescentou o investigador.
Os investigadores indicaram, como exemplo, que numa grande cidade, um teste rápido generalizado duas vezes por semana, mesmo menos sensível, reduziu o grau de infecciosidade do vírus em 80%. A testagem duas vezes por semana com um teste mais sensível de PCR (reação em cadeia da polimerase), que leva até 48 horas para apresentar os resultados, a infecciosidade é reduzida em apenas 58%. Quando a quantidade de testes era a mesma, o teste rápido reduziu sempre a infecciosidade melhor do que o teste de PCR mais lento e mais sensível.
Isto porque cerca de dois terços das pessoas infetadas não apresentam sintomas e, enquanto aguardam os resultados, continuam a espalhar o vírus.
“Este estudo é um dos primeiros a mostrar que nos devemos preocupar menos com a sensibilidade do teste e, quando se trata de saúde pública, priorizar a frequência e o tempo do resultado do teste”, referiu Roy Parker, coautor sénior e diretor do BioFrontiers Institute.
O estudo também demonstra que a realização frequente dos testes pode encurtar a pandemia e salvar vidas. Uma linha também muito defendida pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde quando alertava para a necessidade de testar, testar e testar.
Num cenário, em que 4% dos indivíduos numa cidade já estavam infetados, o teste rápido em três por cada quatro pessoas de três em três dias reduziu o número de infetados em 88% e foi “suficiente para extinguir a pandemia em seis semanas”.
Os níveis de sensibilidade dos testes variam amplamente. Os testes de antígenos requerem uma carga viral relativamente alta – cerca de 1.000 vezes mais vírus do que o teste de PCR – para detetar uma infeção. Outro teste, conhecido como RT-lamp pode detetar o vírus no caso de existirem cerca de 100 vezes mais vírus do que o PCR. O teste de PCR de referência requer apenas 5.000 a 10.000 de cópias de ARN viral por mililitro de amostra, o que significa que pode detetar o vírus muito cedo ou muito tarde.
As autoridades de saúde e a população foram relutantes em adotar os testes rápidos com o medo de não detetarem casos no início da infeção. Mas, na realidade, uma pessoa infetada pode ir de 5.000 partículas a 1 milhão de cópias de ARN viral em 18 a 24 horas, referiu Roy Parker.
“Há uma janela muito curta, no início da infeção, na qual o PCR deteta o vírus, e os testes de antígeno ou o teste LAMP não”, esclareceu o investigador. E durante esse tempo, a pessoa muitas vezes não é contagiosa.
“Esses testes rápidos são testes de contagiosidade”, referiu o coautor do estudo Michael Mina, professor assistente de epidemiologia na Escola de Saúde Pública de Harvard TH Chan. “Eles são extremamente eficazes na deteção de COVID-19 quando as pessoas são contagiosas.”
Os testes rápidos são muito baratos e devolvem os resultados em apenas 15 minutos. Ao contrário o resultado de alguns testes de PCR podem levar vários dias.
Os testes rápidos também podem ser a chave para dar vida às antigas ameaças de super propagação, como em estádios de futebol, salas de concertos e aeroportos, com os clientes a fazerem o teste a caminho do local e ainda usando máscaras como medida de precaução, referiu Daniel Larremore.
Para o investigador está na “hora de mudar a mentalidade em torno dos testes e pensar num teste COVID como algo que se obtém quando se pensa que se está doente como uma ferramenta vital para quebrar as correntes de transmissão e manter a economia aberta”.