A aplicação clínica do conhecimento recolhido nas últimas décadas sobre a genética do cancro não se tem de verificado de forma significativa no cancro pediátrico em comparação com o cancro em adultos, indica estudo publicado na revista Science.
Os autores do estudo Jaclyn Biegel, do Hospital Infantil de Los Angeles, e Alejandro Sweet-Cordero, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, investigaram os estudos no domínio do cancro pediátrico e consideram que os avanços a que se chegou apresentam oportunidades para usar as informações genómicas e avançar para uma nova era de cuidados das crianças com cancro.
O cancro surge de alterações genéticas, incluindo mutações no ADN, que estão presentes no nascimento ou são adquiridas ao longo da vida. Muitos cancros em adultos são iniciados por mutações adquiridas através da exposição a substâncias como as do tabaco, radiação ou simplesmente do envelhecimento. Os tumores podem conter centenas de alterações de sequência pelo que identificar quais são as alterações que impulsionam o crescimento dos tumores e levar essas respostas para o tratamento pode ser um grande desafio.
No caso das neoplasias pediátricas geralmente estas desenvolvem a partir de um número muito pequeno de mutações, apenas algumas destas se sobrepõem aos tipos de mutações observadas em cancros em adultos. Além disso, cerca de 20% dos cancros pediátricos surgem em crianças com predisposição genética para malignidade. Por essa razão, os ensaios clínicos genéticos desenvolvidos para informar o prognóstico e as decisões de tratamento para cancros em adultos não têm sido muito uteis em pediatria.
O painel de sequenciação a detetar alterações de ADN e ARN que caracterizam os cancros pediátricos foi desenvolvido no Hospital Infantil de Los Angeles sob a orientação de Jaclyn Biegel. O painel “OncoKids” fornece um diagnóstico molecular, informa o prognóstico e destaca novos alvos terapêuticos em todo o amplo espectro de cancro em crianças, incluindo leucemias, tumores cerebrais e outros tumores sólidos.
“Para realmente alcançar a medicina personalizada em oncologia pediátrica, precisamos ser capazes de determinar se uma criança é geneticamente predisposta a desenvolver cancro”, referiu Jaclyn Biegel. Além do teste do tumor, o teste de herança genética (germline) que usa uma amostra do sangue é fundamental para identificar as crianças que têm risco genético para o desenvolvimento de cancro, no futuro. Além de beneficiar a criança, a informação tem implicações para toda a família, uma vez que uma anormalidade que é passada de pai ou mãe para filho ou filha também pode aumentar o risco de desenvolver cancro nos irmãos.
Embora um enorme progresso tenha sido feito no tratamento do cancro pediátrico, a doença resistente ao tratamento e a recaída continua a perseguir os pacientes. O perfil genético dos cancros pediátricos é tipicamente feito no momento do diagnóstico ou no momento da recaída para ajudar a determinar o planeamento do tratamento.
Jaclyn Biegel considera que futuros estudos podem ser realizados ao longo do tratamento e na remissão pois têm o potencial de fornecer informações críticas sobre os mecanismos de progressão do tumor, resistência ao tratamento e metástase.
Os investigadores consideram que atualmente existe uma enorme oportunidade para mudar a situação das crianças com cancro, usando uma abordagem integrada para avaliar as crianças e as suas famílias, o que inclui a medicina genómica como um componente central dos cuidados a serem prestados.