Um teste de diagnóstico de tuberculose (TB), de baixo custo e fácil de usar, pode ajudar os países em desenvolvimento a identificar e tratar a doença infeciosa e às vezes mortal, concluiu estudo realizado no Malawi, no sudeste da África.
O estudo, que já se encontra publicado ‘African Journal of Laboratory Medicine’, indicou que o teste de tuberculose CX revelou que é confiável e pode ser facilmente empregue em áreas com alta incidência de tuberculose, referiu o autor do estudo, Jesse Kwiek, professor associado de microbiologia da Ohio State University.
O teste TB CX é projetado para detetar não apenas a tuberculose, mas também para determinar se a estirpe infetante é resistente a algum dos antibióticos usados no tratamento. O estudo que envolveu 96 pessoas com alto risco de TB, não detetou formas de doença resistentes aos medicamentos. Jesse Kwiek indicou que estão em curso estudos adicionais para avaliar o papel que o teste CX, de baixo custo, pode desempenhar na identificação da melhor terapêutica para tratamento a tuberculose.
Tuberculose no mundo
A tuberculose é uma infeção bacteriana que geralmente ataca os pulmões, mas também pode prejudicar outras partes do corpo, incluindo os rins, coluna e cérebro. Nem todos os infetados por bactérias da tuberculose adoecem, mas para os que adoecem pode ser fatal, se não forem tratados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 4.000 pessoas morram de tuberculose por dia, em todo o mundo. O Malawi está entre os 20 países que a OMS classificou como tendo um alto número de pessoas infetadas com TB e HIV. A maioria dos casos é diagnosticada com base em sintomas clínicos e testes simples de cultura de células que não revelam detalhes sobre se a infeção é resistente a medicamentos.
Execução do teste TB CX
Para executar o novo teste experimental, um profissional de saúde recolhe uma amostra de fleuma (muco) do trato respiratório de uma pessoa suspeita de tuberculose e usa um conta-gotas para colocar amostras em quatro compartimentos num prato redondo. Três compartimentos possuem, cada um, ciproflaxina, isoniazida ou rifampicina, e um não possui nenhum medicamento.
Cerca de 10 dias a duas semanas depois, num ambiente de temperatura controlada, as bactérias TB (se presentes) aparecem pelo menos num dos compartimentos. Cada um dos outros três compartimentos (que são codificados por cores) contém os três antibióticos usados para tratar a infeção. Se as bactérias crescerem num ou mais desses três compartimentos, o teste mostra que a tuberculose é resistente a um ou mais antibióticos.
O teste que tem um encargo de 2 dólares foi desenvolvido por Carlton Evans, do Imperial College of London e da Cayetano Heredia University, no Peru. O investigador é também coautor do estudo.
O novo teste CX de diagnóstico fornece mais informações do que o teste que é normalmente usado em todo o mundo, em que o muco é espalhado num slide e examinado posteriormente para tuberculose, indicou Jesse Kwiek, e que não é tão dispendioso como o teste de diagnóstico baseado em genes.
“A abordagem de diagnóstico que é normalmente usada no campo não diz nada sobre a suscetibilidade a medicamentos, o que é fundamental para um tratamento eficaz de infeções de tuberculose resistente a antibióticos”, referiu Jesse Kwiek.
Os testes moleculares mais avançados usados nos países mais ricos são excelentes, mas não são acessíveis a grande maioria dos países do mundo por serem caros e exigirem complementos e treino específicos, indicou o investigador. No Malawi, cada teste GeneXpert recomendado pela OMS, levaria a encargos de cerca de 18 dólares.
“Este novo teste CX de 2 dólares é rápido, eficaz e barato e permite que os médicos saibam antecipadamente sobre a resistência aos medicamentos, para que possam personalizar o tratamento”, concluiu Jesse Kwiek.
Estudos em curso
Trabalhos realizados anteriormente em laboratório comprovaram a capacidade do teste de detetar a resistência ao tratamento, mas o estudo do Malawi não forneceu muitas informações sobre isso, porque nenhum dos casos encontrados no pequeno estudo foi resistente.
O novo estudo, no entanto, mostrou que o teste foi simples de usar no campo e que encontrou de forma os 13 casos de tuberculose existentes entre os participantes, que foram posteriormente confirmados por testes avançados.
“Perto de um quarto da população mundial está infetada com tuberculose, representando 1,9 mil milhões de pessoas, destas 10% vão desenvolver TB ativa nas suas vidas”, indicou Jordi Torrelles, autor principal do estudo e ex-professor associado de microbiologia no estado de Ohio, agora a trabalhar no Texas Biomedical Research Institute.
O investigador considera que se deve melhorar os “testes para diagnosticar a tuberculose e abordar quais os tratamentos que posem ser mais bem-sucedidos”. Agora são necessários mais estudos em países com alta prevalência de resistência a medicamentos antes do teste CX de tuberculose possa vir a ser usado de forma mais geral.
Jordi Torrelles indicou que estão em curso mais investigações na China, Guatemala e Etiópia e que um teste de segunda geração que examina a resistência a 11 medicamentos também será estudado. O novo teste pode levar a encargos de aproximadamente 9 dólares por amostra para fornecer os resultados dentro de duas semanas.
Para o investigador um destes testes “é importante quando se considera que as técnicas atuais de cultura usadas para detetar a resistência aos medicamentos levam de dois a três meses para fornecer resultados em países de baixo rendimento.”
Jordi Torrelles e a equipa de investigadores de Ohio e de outros centros de investigação também estão interessados nas implicações do uso deste tipo de teste para a tuberculose bovina, que é uma preocupação agrícola importante e que também pode ser transmitida de bovinos para humanos.