À medida que os testes de COVID-19 se tornam mais disponíveis, os investigadores consideram que os prestadores de cuidados de saúde e as autoridades de saúde pública devem entender os limites dos testes e o impacto que os resultados de falsos negativos podem ter nos esforços para conter a pandemia.
Os resultados de um estudo publicado na Mayo Clinic Proceedings chamam a atenção para o risco representado pela dependência excessiva dos testes de COVID-19 para tomar decisões clínicas e de saúde pública. A sensibilidade dos testes da transcrição reversa de reação em cadeia da polimerase (RT-PCR) e as características gerais de desempenho dos testes não foram ainda relatados de forma clara ou consistente na literatura médica.
Priya Sampathkumar, especialista em doenças infeciosas da Clínica Mayo e coautora do estudo referiu que as autoridades de saúde devem esperar uma “segunda onda de infeção menos visível que parte de pessoas com resultados de testes falso-negativos”.
Falsos-negativos do teste à COVID-19
“O teste de RT-PCR é mais útil quando positivo”, referiu Priya Sampathkumar. “Um teste negativo geralmente não significa que a pessoa não tem a doença. Os resultados do teste têm de ser considerados no contexto das características e da exposição do paciente”.
Mesmo com valores de sensibilidade do teste RT-PCR até 90%, a magnitude do risco de resultados de testes falsos será substancial, à medida que o número de pessoas testadas cresce. A investigadora dá como exemplo a Califórnia referindo que “as estimativas indicam a taxa de infeção por COVID-19 pode exceder os 50% até meados de maio de 2020″,
Assim, “com uma população de 40 milhões de pessoas, 2 milhões de resultados falso-negativos podem ocorrer na Califórnia com testes abrangentes. Mesmo que apenas 1% da população tenha sido testada, 20.000 resultados falso-negativos serão esperados”.
Os efeitos dos falsos-negativos
Os investigadores também citam os efeitos nos profissionais de saúde. Se a taxa de infeção por COVID-19 entre os mais de 4 milhões de pessoas que prestam atendimento direto ao paciente nos EUA for 10% – muito abaixo da maioria das previsões -, mais de 40.000 resultados falso-negativos podem ocorrer se todos forem testados.
Uma grande quantidade de falsos-negativos representa riscos para o sistema de saúde num momento crítico. “Atualmente, as diretrizes do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para profissionais de saúde assintomáticos com testes negativos podem levar ao seu regresso imediato ao trabalho em atendimento clínico de rotina, e assim o risco de espalhar a doença”, referiu Colin West, médico da Clínica Mayo e primeiro autor do estudo. Victor Montori, endocrinologista da Mayo Clinic, também é coautor.
Recomendações devido à baixa sensibilidade dos testes
Ao lidar com pandemia de COVID-19, é importante que as autoridades de saúde pública sigam os princípios do raciocínio baseado em evidências a respeito dos resultados dos testes de diagnóstico e dos falso-negativos, e por isso os investigadores descrevem quatro recomendações:
■ Continuação da adesão estrita ao distanciamento físico, lavagem das mãos, desinfeção da superfície e outras medidas preventivas, independentemente do nível de risco, sintomas ou resultados dos testes COVID-19. Pode ser necessário “mascarar” universalmente os profissionais de saúde e os pacientes.
■ O desenvolvimento de testes altamente sensíveis ou combinações de testes é necessário e urgente para minimizar o risco de resultados falso-negativos. São necessários testes melhorados de RT-PCR e testes sorológicos – exames de sangue que identificam anticorpos ou proteínas presentes quando o corpo está a responder a infeções como a da COVID-19.
■ Os níveis de risco devem ser cuidadosamente avaliados antes do teste, e os resultados negativos devem ser vistos com cautela, especialmente em pessoas em grupos de maior risco e em áreas onde a infeção generalizada por COVID-19 foi confirmada.
■ Protocolos estratificados por risco para gerir resultados negativos do teste COVID-19 são necessários e devem evoluir à medida que mais estatísticas se vão tornando disponíveis.
■ “Para indivíduos verdadeiramente de baixo risco, os resultados negativos dos testes podem ser suficientemente tranquilizadores”, referiu Colin West. “Para indivíduos de alto risco, mesmo os que não apresentam sintomas, o risco de resultados de testes falso-negativos requer medidas adicionais para proteger contra a propagação da doença, como o autoisolamento prolongado”.
Na Clínica Mayo, o teste de RT-PCR é “um dos muitos fatores que são levados em consideração ao decidir se o paciente atende aos critérios para COVID-19”, referiu diz Priya Sampathkumar. Se o teste de RT-PCR for negativo, mas os resultados dos exames de raios-X ou tomografia computadorizada forem anormais ou se houver contato próximo com uma pessoa com COVID-19, a recomendação é continuar a cuidas do paciente como tivesse COVID-19.