A moderna radioterapia é cada vez mais precisa e direcionada, mas mesmo assim ainda pode causar uma variedade de efeitos colaterais nos tecidos, incluindo na pele, na gordura e nos vasos sanguíneos, meses ou anos após o tratamento.
Um estudo publicado hoje, 24 de janeiro, na revista Science Translational Medicine, financiado pelo Wellcome Trust, concluiu que uma nova terapia genética por administração de um vírus pode proteger os tecidos saudáveis dos efeitos colaterais prejudiciais da radioterapia após o tratamento do cancro.
A nova terapia genética pode ser usada para melhorar os resultados de uma cirurgia de reconstrução mamária em mulheres com cancro da mama, protegendo as pacientes de cicatrizes, do encolhimento da pele e de danos nos tecidos subjacentes.
A nova terapia genética pode prevenir efeitos colaterais da radioterapia em mulheres que foram submetidas a cirurgia de reconstrução mamária e desta forma poupar as mulheres a uma segunda operação para reparar os danos causados por efeitos colaterais motivados pela radioterapia.
A equipa de cientistas do The Institute of Cancer Research, em Londres, usou uma versão modificada e inofensiva de um tipo de vírus chamado lentivírus e conseguiu preveniu danos nos tecidos em ratos tratados com radioterapia reprogramando células saudáveis para se protegerem.
O vírus foi usado para entregar cópias extras de um gene chamado SOD2, que desempenha um papel na limitação da resposta ao stress devido às partículas nocivas libertadas pela radioterapia. Os cientistas combinaram duas administrações do vírus em que a segunda se destinou a bloquear a atividade do gene CTGF envolvido na resposta cicatricial à radioterapia.
Seis meses após a radioterapia, os cientistas verificaram que os tecidos transplantados em ratos que foram tratados com a combinação das duas terapias genéticas: SOD2 e CTGF, diminuíram apenas 15%, em comparação com os que não receberam tratamento que diminuíram 70%.
O estudo indica que a terapia viral foi injetada nos vasos sanguíneos no tecido antes de ser transplantado, para garantir que o efeito protetor fosse isolado, isto é, apenas para o tecido saudável longe do cancro, e para modelar a situação em que a terapia genética seria entregue clinicamente.
A quantidade de SOD2 e CTGF não aumentou na área fora do tecido transplantado – o que significa que as células tumorais não foram protegidas pelo tratamento e permaneceram vulneráveis à radioterapia.
Os investigadores verificaram que os tumores nos ratos que foram tratados com a terapia genética responderam melhor à radioterapia, dado que o crescimento do tumor parou ao fim de 40 dias em quatro dos cinco animais.
A observação permitiu aos investigadores concluir que a terapia genética ao proteger os tecidos saudáveis em torno de tumores aumentou a eficácia da radioterapia, no entanto lembram que é necessário mais investigação para descobrir como é que isso acontece.
As duas terapias genéticas com o gene CTGF e com o gene SOD2 parecem, referem o estudo, contrariar o dano provocado pela radioterapia no tecido saudável através de mecanismos diferentes, pelo que sugerem que a combinação das duas terapias é mais benéfica.
Para os cientistas a nova terapia genética abre a possibilidade de oferecer às mulheres, com cancro da mama, uma cirurgia de reconstrutiva, usando tecidos que são protegidos contra efeitos colaterais de radioterapia, pelo que o passo seguinte será proceder a ensaios clínicos.
Kevin Harrington, investigador no Institute of Cancer Research, referiu: “Desenvolvemos uma nova terapia genética viral que pode ajudar a proteger os tecidos saudáveis dos danos causados pela radioterapia, mesmo pelas radioterapias modernas e mais precisas.”
O investigador acrescentou que “agora que as pessoas com cancro sobrevivem por muito tempo, é cada vez mais importante abordar o impacto a longo prazo dos tratamentos contra o cancro.”
Paul Workman, diretor executivo do Institute of Cancer Research, esclareceu que os investigadores encontraram “uma nova maneira inteligente de administrar a terapia genética usando um vírus, de modo que o tecido saudável é protegido contra efeitos colaterais de radioterapia enquanto as células tumorais permanecem vulneráveis ao tratamento”.
O diretor do Institute of Cancer Research acrescentou: “É emocionante que o novo tratamento viral tenha protegido com sucesso o tecido saudável” e ao mesmo tempo tenha melhorado os efeitos da radioterapia, aumentando a possibilidade real “de melhorar a qualidade de vida dos pacientes com cancro”.
“Algumas mulheres que precisam de radioterapia após uma mastectomia devem aguardar até seis meses após o término do tratamento para que possam ser sujeitas uma cirurgia de reconstrução mamária, para permitir avaliar os efeitos colaterais da radioterapia”, indicou Kevin Harrington.
O investigador indicou que espera que a nova terapia genética viral possa vir a proteger o tecido saudável transplantado durante a cirurgia do cancro, levando a uma reconstrução mais cedo do peito.