Depois de um programa nacional de rastreio diabético usando telemedicina, na Inglaterra e no País de Gales, a retinopatia diabética deixou de ser a causa principal de cegueira nestes países do Reino Unido.
Programas semelhantes de ‘e-saúde’ podem vir a ser implementados nos EUA, onde a retinopatia diabética continua a ser a principal causa de cegueira. Para avaliar a adesão dos pacientes a um programa de telemedicina, investigadores da University of Eye Center Kellogg, de Michigan, procederam a um estudo com adultos com idade elevada, para verificar a operacionalidade da telemedicina aplicada ao rastreio oftalmológico.
“A telemedicina tem-se mostrado um método seguro para fornecer e monitorizar cuidados de saúde ocular diabética. Se os médicos planeiam mudar a maneira como as pessoas recebem os cuidados de saúde, então devemos criar um serviço que seja atraente e adequado aos pacientes”, refere Maria Woodward, oftalmologista na Kellogg Eye Center, e autora principal do estudo.
A deteção e o tratamento precoce é a chave para prevenir a cegueira causada por retinopatia diabética, mas menos de 65% dos adultos norte-americanos com diabetes passam por uma triagem, e em populações pobres a percentagem pode descer para os 10 ou 20%.
A mudança do modelo de rastreio clássico para um programa baseado na telemedicina poderá aliviar os pacientes de diversos encargos com os cuidados de saúde, como os de ir a uma consulta da especialidade oftalmológica, aceder aos centros de saúde, deslocações e períodos de ausência ao trabalho, referem os investigadores.
O número de pessoas com diabetes em 2030, em todo o mundo, é estimado em 366 milhões, pelo que é urgente encontrar formas de proceder a rastreios em grande escala, e o exame oftalmológico eletrónico aparece como uma opção.
A telemedicina permite que os médicos de cuidados primários desempenhem um papel fundamental na prevenção de lesões dos olhos. Através de uma câmara digital de retina sem dilatação são captadas fotografias da retina de ambos os olhos num consultório médico. As imagens são enviadas através de uma rede segura, baseada em ‘nuvem’, a um especialista de oftalmologia que elabora um relatório e o remete ao médico de cuidados primários.
Com base nos resultados do relatório, o paciente é submetido à recolha de novas imagens ou encaminhado para uma consulta especializada de oftalmologia.
No estudo, publicado na revista ‘Telemedicine and e-Health’, da American Telemedicine Association, apenas 3% dos 97 pacientes que participaram no estudo tinham ouvido falar de telemedicina. Mas depois dos pacientes receberem explicações sobre o método por telemedicina, os investigadores verificaram que 69% passaram a afirmar que a telemedicina pode ser mais conveniente do que os exames tradicionais ‘one-on-one’ com um especialista.
Os investigadores verificaram que os pacientes demonstravam menos interesse pela telemedicina se tivessem vivido com diabetes durante alguns anos, ou se tivessem um bom relacionamento com o seu médico. Os pacientes apresentavam mais disponibilidade para participar em programas com telemedicina quando consideravam conveniente o acesso a um exame oftalmológico de rotina ou se anteriormente tivessem tido problemas de acesso ao médico.
“Os pacientes com uma doença de longa duração são menos propensos a confiar num novo modelo de rastreio, menos pessoal”, refere Maria Woodward. A oftalmologista acrescenta ainda que “os resultados do estudo indicam que a vontade de participar num rastreio de retinopatia diabética, usando telemedicina, reflete como os pacientes percebem a relação médico-paciente, para a sua própria saúde”.