Depois de em 27 de março de 2022, o Reino Unido ter informado a Organização Mundial da Saúde (OMS) de um conjunto de casos com infeção monofásica por Salmonela Typhimurium tipo 34. As investigações legaram a que a infeção estava ligada ao consumo de chocolate produzido na Bélgica, e que foi distribuído para pelo menos 113 países, incluindo Portugal.
A OMS indica que até o momento foram relatador 151 casos, por 11 países, de geneticamente suspeitos de estarem relacionados ao consumo dos produtos de chocolate. A avaliação de risco de propagação na Europa é para a OMS moderada.
A Salmonela Typhimurium correspondente aos casos de surto humano foi identificado em tanques na fábrica da Ferrero Corporate em Arlon, Bélgica, em dezembro de 2021 e janeiro de 2022. Após a implementação de medidas de higiene e testes negativos de Salmonela, os produtos implicados (todos os produtos Kinder fabricados nas (Arlon), incluindo Kinder Surprise, Kinder Mini Eggs, Kinder Surprise Maxi 100g e Kinder Schoko-Bons) foram distribuídos em toda a Europa e no mundo.
De acordo com as análises da United Kingdom Health Security Agency, a estirpe do surto é resistente a seis tipos de antibióticos: penicilinas, aminoglicosídeos (estreptomicina, espectinomicina, canamicina e gentamicina), fenicols, sulfonamidas, trimetoprim, tetraciclinas.
Os sintomas relatados foram a diarreia sanguinolenta e alguns doentes foram hospitalizados, no entanto até 25 de abril de 2022, não tinha sido relatado a OMS nenhum caso de morte associado ao surto.
Salmonelose
A salmonelose é uma doença causada pela bactéria Salmonela não tifoide. Foram identificados aproximadamente 2.500 sorotipos, mas a maioria das infeções humanas é causada por dois sorotipos de Salmonela: Typhimurium e Enteritidis.
A salmonelose é caracterizada por um início agudo de febre, dor abdominal, náuseas, vómitos e diarreia que pode ser sanguinolenta, conforme relatado na maioria dos casos no surto atual. O início dos sintomas geralmente ocorre de 6 a 72 horas após a ingestão de alimentos ou de água contaminados com Salmonela, e a doença dura de 2 a 7 dias. Os sintomas da salmonelose são relativamente leves e os pacientes recuperam sem tratamento específico na maioria dos casos. No entanto, em alguns casos, particularmente em crianças e pacientes idosos, a desidratação associada pode tornar-se grave e levar a risco de vida.
A bactéria Salmonela está amplamente distribuída em animais domésticos e silvestres, como aves, suínos e bovinos, e em animais de estimação, incluindo gatos, cães, pássaros e répteis, como tartarugas. A Salmonela pode passar por toda a cadeia alimentar, desde a alimentação animal, a produção primária e até em residências ou estabelecimentos e empresas de confeção de alimentação. A salmonelose em humanos é geralmente contraída através do consumo de alimentos contaminados de origem animal (principalmente ovos, carnes, aves e leite). A transmissão de pessoa para pessoa também pode ocorrer pela via fecal-oral.
Saúde pública – avaliação de risco
As infeções por Salmonela são geralmente leves e não requerem tratamento, no entanto, crianças e idosos correm maior risco de complicações graves relacionadas com desidratação. Até o momento, a maioria dos casos ocorreu em crianças com menos de 10 anos de idade, o leva a crer que pode ser devido aos produtos de chocolate estarem mais direcionados a crianças.
Conselho da OMS de prevenção da salmonelose
A prevenção requer medidas de controlo em todas as etapas da cadeia alimentar, desde a produção agrícola, até ao processamento, fabricação e preparação de alimentos, tanto em estabelecimentos comerciais com no domicílio.
As medidas gerais de prevenção para o público também incluem: lavar as mãos com água e sabão, especialmente após contato com animais de estimação ou animais de campo, ou depois ao WC; garantir que os alimentos sejam cozidos adequadamente; beber apenas leite pasteurizado ou fervido; evitar gelo, a menos que seja feito de água potável; lavagem de frutas e legumes cuidadosamente.
Tratamento da salmonelose
A terapia antimicrobiana de rotina não é recomendada para casos leves ou moderados em indivíduos saudáveis. Isso ocorre porque os antimicrobianos podem não eliminar completamente as bactérias e podem resultar em estirpes resistentes, o que posteriormente pode levar à ineficácia do medicamento. O tratamento em casos graves é a reposição de eletrólitos (íons de sódio, potássio e cloreto, que foram perdidos por vómito e diarreia) e reidratação.