Tarde de domingo, 16 de outubro, Rua de Artilharia 1, em Lisboa, dois jovens munidos de latas de tinta em spray de várias cores pintam o muro. Pouco tempo depois a pintura toma forma, ou melhor os artistas dão forma à pintura.
Andrea Matteo cocco é da Suíça, bem como Esther Weber, a namorada que o acompanha no traço do graffiti que se tornou numa expressão de arte em muitas urbes. Lisboa assume-se como uma das cidades em que esta expressão de arte urbana mais tem crescido nos últimos anos.
Edifícios à espera de remodelação ou de demolição tornam-se objetos de expressões de ideias e suportes de um rejuvenescimento artístico em que materiais e criadores se confrontam dando tempo à cidade para respirar com cor e sentido.
Lisboa tornou-se a grande galeria de arte, e tal como num museu, as visitas guiadas percorrem a cidade. As ruas, as avenidas e as praças são como os corredores e as salas de um novo museu. Este sem teto, sem portas, sem bilheteira, sem conservadores e curadores e sem diretor.
Depois das ‘guerras’, entre os que tentavam exprimir pelo graffiti, sentimentos, revoltas ou simplesmente dar à arte um novo espaço, responsáveis do município de Lisboa compreenderam que estes verdadeiros artistas de uma arte teimosamente atirada para a clandestinidade são os obreiros de uma nova comunicação em permanente ampliação.
Com a criação em 2009 da Galeria de Arte Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, os grafiteiros começaram a ter espaços ‘autorizados’ para exprimirem a sua arte. Uma nova corrente de artistas veio à cidade e surgiram novas formas de arte urbana. Uma arte que é efémera porque é transitória no suporte e na mensagem, mas já é objeto de análise histórica e politica, bem como de estudo nos domínios sociológico, do marketing e da ciência da comunicação.
A arte de rua deu o grito, um grito pela liberdade e pela paz, tal como o suíço Andrea Matteo cocco, tatuador (tattoo) e surfista de Berna, que depois de umas férias em Portugal e de regresso a casa, encontrou no graffiti e no muro em Lisboa a sua forma de exprimir o que sentiu em Portugal, ‘PEACE’.
Esther Weber, a enfermeira de Berna, deu verde à sua grande ave, que de asas caídas e de bico curvado parece aguardar tristonha a hora do voo ou a falta de vontade de abandonar o habitat preferido.
A arte de rua, conhecida pela designação em inglês street art, transformou-se e transformou a cidade, é hoje objeto de projetos de dinamização de bairros, motivo para visita do Presidente da República, como no caso do bairro Padre Cruz, novos roteiros para turistas, visitas de estudo ou passeios com estudantes Erasmus.
Os grafiteiros são agora, e bem, reconhecidos como artistas, e o seu trabalho uma arte cada vez mais usada pelos poderes públicos, pelas grandes marcas e pelas empresas de eventos. Das ruas, esta arte dos grafiteiros, está a passar para o interior dos edifícios, decorando grandes espaços de grandes edifícios, mas também restaurantes e outros locais públicos.
A street art serve agora, também, para homenagear figuras públicas, como Amália Rodrigues, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner Anderson ou o Professor Moniz Pereira, e os artistas são agora conhecidos e reconhecidos no país e no estrangeiro.