A contaminação do solo por resíduos de pesticidas tornou-se uma questão de crescente preocupação nas últimas décadas, levando investigadores da Wageningen University & Research a analisar solos agrícolas de onze países da União Europeia.
Os investigadores verificaram que mais de 80% das amostras de solo recolhidas continham resíduos de pesticidas, concluindo que como descrevem na revista científica Science of the Total Environment a presença de misturas de resíduos de pesticidas nos solos é a regra e não a exceção.
Os investigadores analisaram 317 amostras de solo agrícola europeu de diferentes sistemas de cultivo, incluindo campos de batata, trigo, milho, vegetais e vinhas. A análise envolveu o teste de 76 compostos, ou seja, cerca de 20% dos pesticidas disponíveis na UE.
As análises mostraram a existência de 43 resíduos de pesticidas diferentes no solo, alguns na forma ativa original, outros como metabolitos. Os investigadores verificaram que 58% das amostras continham vários resíduos de pesticidas, algumas continham até 13 resíduos, e que 25% das amostras continham um tipo de resíduo de pesticida, tendo identificado mais de 150 diferentes misturas de pesticidas no solo.
DDT continua nos solos da Europa
O glifosato, o metabólito AMPA, metabólitos do DDT, – proibidos há décadas na Europa – e os fungicidas de amplo espectro boscalide, epoxiconazol e tebuconazol foram os compostos que foram encontrados com mais frequência e nas concentrações mais altas. O teor total máximo de pesticidas no solo foi de 2,87 miligramas por quilograma de solo.
Violette Geissen, investigador envolvido no estudo, referiu: “Embora tenhamos encontrado mais de um resíduo em 58% dos solos, pode-se afirmar que a presença de múltiplos resíduos de pesticidas no solo é aparentemente a regra e não a exceção.”
Os efeitos tóxicos dos vários resíduos de pesticidas nas comunidades de organismos do solo são desconhecidos. Mas “mais de meio século de uso de pesticidas no solo sem serem monitorados levanta questões”, referiu o investigador. A avaliação da toxicidade pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos inclui apenas os efeitos de resíduos individualmente num pequeno número de organismos do solo.
Política de proteção do solo
Os investigadores defendem que a contaminação do solo por resíduos de pesticidas deve ser um especto integrante na caracterização da qualidade geral do solo. “No entanto, até agora, não existe legislação da UE para limiares ou padrões de qualidade para misturas ou para resíduos individuais de pesticidas aprovados para serem usados no solo, e desta forma colocando em perigo os organismos cruciais do solo”, referiu o investigador.
Assim, o investigador concluiu que “Por conseguinte, é urgentemente necessário que se estabeleçam políticas adequadas de proteção do solo ao nível da CE, concentrando-se na acumulação de resíduos de pesticidas, e efeitos relacionados na vida do solo, especificamente, no mais curto prazo possível. Além disso, os atuais procedimentos de aprovação de pesticidas devem ser reavaliados, para cobrir potenciais efeitos de misturas de resíduos de pesticidas em uma ampla gama de organismos do solo.”