“A situação que se desenrola no norte de Gaza é apocalíptica”, declaram os líderes de 15 organizações humanitárias e das Nações Unidas. Em declaração os Diretores do Comité Permanente Interinstitucional (CPI) referem que “a área está sitiada há quase um mês, sem ajuda básica e suprimentos vitais enquanto os bombardeamentos e outros ataques continuam. Só nos últimos dias, centenas de palestinianos foram mortos, a maioria deles mulheres e crianças, e milhares foram novamente deslocados à força.”
A declaração refere que os Hospitais foram quase totalmente deixados sem suprimentos e foram atacados, foram mortos pacientes, destruídos equipamentos vitais e interrompidos os serviços de cuidados médicos e socorro. Além disso, trabalhadores da saúde e pacientes foram detidos, e que também houve relatos de ataques dentro de hospitais.
Dezenas de escolas que serviam como abrigos foram bombardeadas ou evacuadas à força, e as tendas que abrigavam famílias sem teto foram bombardeadas, e pessoas foram queimadas vivas, lê-se na declaração dos Diretores do Comité Permanente Interinstitucional.
Os líderes de 15 organizações humanitárias e das Nações Unidas relatam na declaração que “equipes de resgate foram deliberadamente atacadas e frustradas em suas tentativas de resgatar pessoas soterradas sob os escombros das suas casas.”
Sobre o sofrimento das mulheres e meninas a declaração refere que as suas necessidades são esmagadoras e que crescem todos os dias. “Perdemos contato com aqueles que apoiamos e com os que fornecem serviços essenciais para salvar vidas em saúde sexual e reprodutiva e violência de gênero” afirmam na declaração os Diretores do CPI.
Os diretores continuam afirmando: “Recebemos relatos de civis a serem atacados enquanto tentavam procurar segurança, e de homens e meninos a serem presos e levados para locais desconhecidos para detenção.“
A destruição é total como refere a declaração em que “o gado também está a morrer, terras de cultivo foram destruídas, árvores foram queimadas e a infraestrutura dos sistemas agroalimentares foi dizimada.”
Em face da situação os Diretores do CPI afirmam: “Toda a população palestiniana no norte de Gaza corre risco iminente de morrer de doenças, fome e violência.”
“A ajuda humanitária não consegue acompanhar a escala das necessidades devido às restrições de acesso. Produtos básicos que salvam vidas não estão disponíveis. Os humanitários não estão seguros para fazer o seu trabalho e são bloqueados pelas forças israelitas e pela insegurança de chegar às pessoas necessitadas.”
A declaração lembra ainda que “em mais um golpe à resposta humanitária, a campanha de vacinação contra a poliomielite foi adiada devido aos conflitos, colocando em risco a vida de crianças na região”.
Sobre as leis aprovadas no Parlamento israelita que levam a todos os impedimentos da missão da Agência das Nações Unidas, UNRWA, os Diretores do CPI referem que se as leis forem implementadas, levará a “uma catástrofe para a resposta humanitária em Gaza, diametralmente oposta à Carta das Nações Unidas, com potenciais impactos terríveis sobre os direitos humanos de milhões de palestinianos que dependem da assistência da UNRWA, e em violação às obrigações de Israel sob o direito internacional.”
Os líderes das 15 organizações humanitárias e das Nações Unidas do CPI afirmam: “Sejamos bem claros: não há alternativa à UNRWA.” E, “o flagrante desrespeito à humanidade básica e às leis da guerra deve acabar.”
“O direito internacional humanitário (DIH), incluindo as regras de distinção, proporcionalidade e precauções, deve ser respeitado. As obrigações do DIH não dependem de reciprocidade. Nenhuma violação por uma parte liberta a outra das suas obrigações legais” referem os Diretores do CPI.
A declaração termina com apelos para que terminem os “ataques contra civis e o que resta da infraestrutura civil em Gaza”, e para que seja facilitada a ajuda humanitária, os feridos e doentes possam receber os cuidados que necessitam. Bem como “o pessoal médico e os hospitais devem ser poupados. Os hospitais não devem transformar-se em campos de batalha.”
O apelo é feito também para que os palestinianos detidos ilegalmente sejam libertados, e “Israel deve cumprir as ordens provisórias e determinações do Tribunal Internacional de Justiça.” Bem como “o Hamas e outros grupos armados palestinianos devem libertar os reféns imediatamente e incondicionalmente e devem respeitar o direito internacional humanitário.”
Para os Diretores do CPI “a região inteira está à beira de um precipício. Uma cessação imediata das hostilidades e um cessar-fogo sustentado e incondicional são esperados há muito tempo.”
Os líderes das 15 organizações humanitárias e das Nações Unidas do CPI que assinam a declaração
- Joyce Msuya, Coordenadora Interina de Assistência de Emergência e Subsecretária-Geral para Assuntos Humanitários (OCHA)
- Nimo Hassan, MBE, Presidente, Conselho Internacional de Agências Voluntárias (ICVA)
- Jamie Munn, Diretor Executivo, Conselho Internacional de Agências Voluntárias (ICVA)
- Amy E. Pope, Diretora Geral, Organização Internacional para as Migrações (OIM)
- Volker Türk, Alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH)
- Abby Maxman, Presidente e Diretora Executiva da Oxfam
- Paula Gaviria Betancur, Relatora Especial das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos das Pessoas Deslocadas Internamente (SR sobre os Direitos Humanos das Pessoas Deslocadas Internamente)
- Achim Steiner, Administrador, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
- Anacláudia Rossbach, Diretora Executiva, Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat)
- Filippo Grandi, Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)
- Natalia Kanem, Diretora Executiva, Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA)
- Catherine Russell, Diretora Executiva, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
- Sima Bahous, Subsecretária-Geral e Diretora Executiva da ONU Mulheres
- Cindy McCain, Diretora Executiva, Programa Alimentar Mundial (PAM)
- Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral, Organização Mundial da Saúde (OMS)