Os sistemas agroflorestais diminuem o risco de incêndio devido às atividades de pastoreio, dado que estas reduzem a quantidade de biomassa acumulada nas florestas, indica comunicado do projeto Agroforestry Innovation Networks (AFINET).
O projeto europeu AFINET que é coordenado em Portugal pela investigadora Joana Amaral Paulo, do Centro de estudos florestais do Instituto Superior de Agronomia, indica que os sistemas agroflorestais são uma forma de uso do solo que integra deliberadamente, no espaço e no tempo, vegetação arbórea e/ou arbustiva com culturas agrícolas e/ou atividades pastoris, potenciando os benefícios das interações ambientais e económicas daí resultantes.
Os sistemas agroflorestais são para os investigadores do projeto AFINET “uma alternativa aos sistemas agrícolas e florestais monoculturais intensivos.”
Para os investigadores do AFINET a prática do sistema agroflorestal, “pode ajudar reduzir dramaticamente as alterações climáticas, protegendo o solo da erosão, permitindo o sequestro de carbono e introduzindo meios naturais de combate às pragas, reduzindo assim a necessidade do uso de pesticidas.”
Mas para os investigadores “os benefícios dos sistemas agroflorestais não são só ambientais. A introdução deste tipo de práticas agrícolas amigas do ambiente e do agricultor permite também a obtenção de produtos de maior qualidade, rendimentos mais elevados e uma maior diversificação de atividades (e consequentemente do lucro) e uma diminuição do risco associado a sistemas monoculturais.”
O projeto AFINET é suportado financeiramente, com quase 2 milhões de euros, pela União Europeia ao abrigo do programa Horizonte 2020. O projeto tem como objetivo a inovação e transferência de conhecimento no sector agroflorestal, e considera a criação de Redes Regionais de Inovação Agroflorestal (RAIN), formadas por agricultores, produtores florestais, associações de produtores, decisores políticos e investigadores.
As RAIN em Espanha, Reino Unido, Bélgica, Portugal, França, Polónia, Hungria, Itália e Finlândia, reúnem-se de forma a promover e a partilhar o seu conhecimento, experiência e ideias no âmbito dos sistemas agroflorestais. A rede em Portugal conta atualmente com 55 membros.
Na reunião da RAIN portuguesa que decorreu, pela primeira vez, a 12 de setembro, em Coruche, os participantes debateram algumas das limitações que se colocam, à implementação dos sistemas agroflorestais, para além das questões ligadas às estratégias políticas, e que incluem:
■a falta de disponibilidade de mão-de-obra humana, uma realidade que condiciona fortemente as atividades de pastorícia e por consequência leva ao aumento da biomassa do sub-coberto que está associado ao aumento do risco de incêndio;
■o pequeno tamanho da propriedade na região centro e norte;
■a falta de informação sobre as melhores práticas de gestão dos sistemas agroflorestais.
Em junho a European Agroforestry Federation (EURAF), alertou que os incêndios em Portugal são uma consequência das escolhas do uso da terra, pelo que o caminho mais seguro de impedir que ocorram tragédias, como as mais recentes, é alterar o atual modo de uso da terra.
Êxodo do interior levou à desertificação das zonas rurais do país.
O investigador João Palma, da Universidade de Lisboa, referiu, citado em comunicado da EURAF, que “os incêndios precisam de combustível” e este existe atualmente em abundância devido ao “êxodo rural de Portugal”, que levou à desertificação das zonas rurais, e ao uso errado da terra. Um conjunto de fatores que levou a que haja enorme combustível disponível para alimentar os fogos.
A European Agroforestry Federation lembrou que “as áreas queimadas consistem principalmente de plantações florestais e de terras agrícolas abandonadas. Enquanto as primeiras são produtivas, as segundas por definição não o são, mas ambas têm uma coisa em comum: “ambas acumulam combustível”.
As florestas estão repletas de folhas, ramos secos e de densa vegetação de baixa altura, uma matéria-prima para incêndios, as terras abandonadas estão cobertas de arbustos, e muitos destes secos. Estas são condições ideais para que os incêndios comecem e se espalhem.
María Rosa Mosquera Losada, da Universidade de Santiago, Espanha, e presidente da EURAF, lembrou que as áreas poupadas pelo incêndio têm em comum um aspeto completamente diferente. Em vez de florestas densas ou vastas extensões de matas, as terras estão cobertas principalmente de carvalhos que, sobretudo na fronteira com Espanha são o lar do porco ibérico preto, e de sobreiros. Nos montados de sobreiros a terra é mantida livre de combustível por varas de porcos, rebanhos de ovelhas, manadas de gado bovino e por aves de capoeira.
O que é tão triste nestes incêndios, é que são evitáveis.
“Verifica-se que os programas que favorecem o pastoreio na floresta, para evitar incêndios florestais, não são adotados”, indica a EURAF, e sublinha “os montados raramente ardem, porque as suas terras são mantidas livres de combustível. “O que é tão triste nestes incêndios, é que são evitáveis”, afirmou a presidente da EURAF, e acrescentou: “Limpar as terras pode gerar receita sob a forma de carne, leite, e lã”.
Para a EURAF os incêndios podem ser evitados se forem encorajados a serem adotados sistemas adequados de uso da terra, usos da terra que minimizem o biocombustível através do pastoreio. A Federação Europeia Agroflorestal recomenda a Portugal para que incentive os proprietários da terra a estabelecer sistemas e práticas de agrosilvicultura, e leve outros proprietários a deixem que as suas terras possam ser usadas em pastoreio por outros, por exemplo, através de esquemas de participação nos lucros.